domingo, outubro 29, 2006

 

O último a saber

Descobri através do Kibe Loco que no estado brasileiro da Rondónia existe uma Associacão de Côrnos. Isso mesmo. De chifrudos. De cornudos. De maridos enganados. DE homens traídos pelas companheiras. Uma associação com sete mil membros, o que é esclarecedor do que se passa na Rondónia (e noutros lugares do mundo, quase de certeza - mas não quero especular).
Esta Associação de Côrnos (eu sei que podia dispensar o acento circunflexo, mas acho que dá à palavra um charme especial) apoia Lula da Silva nas eleições que se disputam hoje no Brasil.
Faz sentido: cornudo que se preze é sempre o último a saber. Tal como Lula.
A notícia, para os que duvidam, está aqui. É só clicar no link.

sábado, outubro 28, 2006

 

Chico



Fiquem aí sossegaditos a ver o jogo entre o Glorioso e os outros rapazes daquele clube feioso, que eu prefiro ir ver o eterno Chico. Depois conto-vos como foi. E não, eu não estou me guardando para quando o Carnaval chegar...

 

Três vezes BUBA

E o BUBA (quem?) tosquiou a juba dos leões, que saíram de Aveiro com com um cabelinho à Paulo Bento. Franja e risquinho ao meio. Um "cabelinho à foda-se", como diria Margarida Rebelo Pinto, a quem reconheço grande potencial para Maria-Chuteira.
BUBA (quem?) só volta a marcar três golos quando o Inferno gelar, o que já não deve faltar muito. Ou quando José Sócrates deixar de ser vaiado cada vez que se desloca a qualquer lado, o que deve demorar mais um bocadinho.
Grande Beira. Grande BUBA (quem?).

 

O último debate


Deixa eu preparar a pipoca...

 

História de amor às avessas em São Paulo

O marceneiro mantém a mulher e a amante, grávida de 2 meses, como reféns. 20 horas mais ou menos com as duas trancafiadas dentro da loja. A polícia corta água, luz e põe escutas. O filho adolescente chega para tentar ajudar nas negociaçoes, mas nada. São ouvidas discussões e um tiro... um instante de silêncio e o alívio. Foi acidental. Toda vez que o marceneiro tenta fazer uma ligaçao a linha é transferida e um policial tenta convencê-lo de soltar as duas mulheres. Às vezes confuso, outras irredutível, depois, parecendo calmo, ele dá continuidade ao conto urbano. Do lado de fora vizinhos aguardam o desfecho...A vida do marceneiro já não era segredo há muito tempo. Segundo a polícia, agora à noite, um bom sinal de que tudo pode acabar bem: o homem fez o jantar para as duas mulheres.

 

Estou entre o erro certo e o duvidoso...


...e faltam só dois dias para as eleiçoes de 2º turno do lado de cá do Atlântico. Assisto à última propaganda eleitoral e me aparece na telinha até o Paulo Coelho a pedir votos para o tio Lula. Muita viagem pro meu gosto e de viagem o presidente parece que gosta mesmo...

sexta-feira, outubro 27, 2006

 

A DEGRADAÇÃO DA PRIVACIDADE E DA INTIMIDADE

Tudo começou no Expresso de 14 de Outubro, há apenas dez dias. É verdade que já havia nas revistas do coração e nos tablóides uma exploração do mesmo tema, mas nunca tinha chegado à imprensa que se pretende séria e responsável. Para se perceber como é que a coisa funciona, basta seguir a sequência: no dia 14, o Expresso titula na primeira página "Casal Sócrates pelo sim", referindo-se à presença de José Sócrates enquanto secretário-geral do PS e uma jornalista descrita como sua "namorada" num debate sobre o aborto. O título era completamente abusivo: a presença dos dois na sala e o facto de fazerem intervenções sobre o mesmo tema era mais que justificado pela circunstância de ambos, cada um de per se, como indivíduos, terem revelado interesse pelo tema e pela causa e não por serem um "casal" que era o que o título queria dizer num mecanismo puramente tablóide. Acresce que, quer um, quer outro, independentemente das relações que tenham ou não tenham, são pessoas que mantêm sobre a sua vida privada uma sadia reserva que cada vez menos se observa em pessoas sujeitas a uma exposição pública. O título do "casal" não tinha qualquer relevância jornalística, destinava-se apenas a alimentar o voyeurismo de um público que respeita pouco ou nada da privacidade alheia. Não havia um átomo de interesse público em tal "revelação", ou sequer na sugestão ofensiva para a individualidade de cada um, e aqui obviamente mais ofensiva para a mulher do que para o homem, de que ela vale mais como parceiro de um "casal", do que pelo seu mérito próprio.Os jornalistas do Expresso não podiam deixar de saber o que estavam a fazer. Quem conhece os mecanismos da comunicação e a selvajaria deontológica em que está hoje mergulhada sabe muito bem que, quando um jornal de "referência" faz aquele título, abre as comportas a uma enxurrada que, a partir da intromissão de privacidade inicial, normaliza o delito. O Expresso deu legitimidade a que todos pudessem voltar a atenção do seu voyeurismo, do seu machismo, para o "casal", neste caso em particular para a "namorada". E nos últimos dez dias a enxurrada do lixo tablóide aberta pelo Expresso levou outra vez todas as revistas do coração a pegar no mesmo assunto, agora já livres do gueto inicial onde estavam acantonadas e mais à vontade para irem mais longe, e a imprensa séria a colocar-se ao mesmo nível. Hoje [ontem], no momento em que escrevo, a Focus tem como título da primeira página "Conheça a namorada do 1.º ministro", e a procissão ainda vai no adro.Insisto que não há aqui qualquer elemento de interesse público, nada que justifique que um jornal assim proceda. Não se trata de usar recursos do Estado indevidamente, não se trata de passar segredos a uma potência estrangeira, não se trata de cometer qualquer crime, trata-se de se viver como se pretende, mesmo tratando-se do primeiro-ministro, que sempre foi reservado na sua vida privada, e da "namorada", que não sei se o é ou não nem isso me interessa, que também tem sempre preservado as suas relações da curiosidade pública. Trata-se de duas pessoas que não podem em nenhuma circunstância ser acusadas de se andarem a exibir e, bem pelo contrário, pretenderam sempre defender a sua privacidade com a máxima reserva e a quem esta exposição forçada e gratuita notoriamente incomoda. Isso deveria ser respeitado, mas não é.O facto de ter sido o Expresso a trilhar este caminho revela uma tendência preocupante da comunicação social portuguesa para desrespeitar direitos de privacidade (já quase todos violados repetidamente pelas revistas cor-de-rosa) e da intimidade (violados no mundo do espectáculo e da televisão, muitas vezes com o consentimento dos próprios, que encontraram na exposição da sua privacidade um modo de vida, mas que é só uma questão de tempo até chegar a todos, queiram ou não).A banalização da violação da privacidade e da intimidade vive do conúbio entre o novo mundo das revistas do coração, cada vez mais agressivas, com a generalização das fotografias tiradas na via pública sem autorização por paparazzi e "cidadãos-jornalistas-tablóides", e a progressiva infecção destas práticas pela imprensa séria, daí a importância do título do Expresso. Neste processo participam muitos voluntários do mundo do espectáculo e cada vez mais gente de outros mundos, inclusive da política. Fazem mal, e quase sempre arrependem-se, tendo muitas vezes que fazer o exercício público de arranque da pele da tatuagem em que escreveram, como num cartaz, o nome do amor eterno que durou um mês.A verdade é que ainda há muita gente para quem a defesa da privacidade e da intimidade são elementos essenciais da sua dignidade e da dignidade dos outros, muita gente que se respeita a si próprio para gostar de ter e viver no seu espaço de liberdade. Estou a imaginar o encolher de ombros e o sibilino, "devem ter alguma coisa a esconder...", pretendendo-se criminalizar a defesa da privacidade, atribuindo-a sempre um mundo de culpa clandestino. Mas é isso mesmo, têm alguma coisa a esconder para poderem ter liberdade de viver como querem, para serem senhoras da sua vida. São cada vez mais uma minoria em extinção, face aos maus hábitos das gerações antigas habituadas à coscuvilhice e ao boatério e das mais novas que praticam a "aldeia global" com todos os inconvenientes da "aldeia", onde todos se conhecem. As gerações do telemóvel e da Internet anónima crescem sem qualquer respeito pela privacidade e intimidade, como se vivessem num reality show. São eles que não perceberam que, ao aceitar um telemóvel com GPS ou com vídeo, aceitam ser controlados com eficácia. Não querem saber, cresceram assim, ninguém os educou para a reserva de si próprios. Serão excelentes clientes para os psiquiatras, quando tiverem dinheiro para os pagar.Uma sociedade em que haja um putativo direito de saber tudo e em que ninguém tenha o seu espaço de intimidade e privacidade defendido, mesmo admitindo uma restrição razoável por razões de interesse público, e só por essas, para os detentores de cargos electivos, é uma sociedade totalitária. Nos últimos dias deram-se mais alguns passos para que, na cultura comunicacional dominante em Portugal, a dignidade do indivíduo fique mais frágil, assim como a liberdade de todos.

Pacheco Pereira in Público de 26 de Outubro

 

Li e lembrei deste blog















Ao volante do Chevrolet pela estrada de Sintra,
Ao luar e ao sonho, na estrada deserta,
Sozinho guio, guio quase devagar, e um pouco
Me parece, ou me forço um pouco para que me pareça,
Que sigo por outra estrada, por outro sonho, por outro mundo,
Que sigo sem haver Lisboa deixada ou Sintra a que ir ter,
Que sigo, e que mais haverá em seguir senão não parar mas seguir?
Vou passar a noite a Sintra por não poder passá-la em Lisboa,
Mas, quando chegar a Sintra, terei pena de não ter ficado em Lisboa.
Sempre esta inquietação sem propósito, sem nexo, sem conseqüência,
Sempre, sempre, sempre,
Esta angústia excessiva do espírito por coisa nenhuma,
Na estrada de Sintra, ou na estrada do sonho, ou na estrada da vida...
(Álvaro de Campos)

segunda-feira, outubro 23, 2006

 

Banca Isenta !!!

O Ministério das Finanças reconhece hoje, em comunicado, que os bancos não são obrigados a reter na fonte o IRS e o IRC resultantes dos juros de obrigações emitidas por bancos nacionais no exterior. Esta situação só era possível porque a administração fiscal desconhecia o regime aplicável.
Agora que a administração fiscal já tem uma interpretação sobre a matéria, os impostos deste tipo de operações vão passar a ser pagos já a partir de Janeiro do próximo ano, assegura o Ministério das Finanças.
O fisco reconhece que o sector bancário aplicou, até agora, o princípio da boa-fé no regime da tributação de juros sobre empréstimos emitidos no exterior, pelo que, segundo o nº 5 do artigo 68.º da Lei Geral Tributária, "determinou a não aplicação retroactiva" das novas regras.
Importa-se de repetir ???

 

Poesia do pé

Quem dá no pé quer fugir.
Ao pé da letra é resposta pronta, sem vacilação. Quem aperta o pé só quer andar mais rápido. Meter os pés é pagar favor com ingratidão... Quem fala ao pé do ouvido quer conversa "em segredo".
Quem bate o pé é teimoso.
Quem bota o pé no mundo quer degredo.
Quem cai de pé é tinhoso...
Quem fica com o pé atrás é desconfiado.
Em pé de igualdade, de igual pra igual.
Se entra com o pé direito, quer ter sorte.
Se entra com o pé esquerdo, é azarado...
Quem lambe os pés, adula e bajula.
Se trata na sola dos pés, é grosseiro.
Quem não chega aos meus pés não tem importância,
É pé-de-chinelo, zé-ninguém sem dinheiro.
Se o negócio está de pé, é porque o acerto é mantido.
Se procuras um pé, buscas pretexto ou motivo.
Quem é pé-de-chumbo não progride na vida;
Mas se é pé-de-bode é trabalhador e prestativo.
Quem chega pé ante pé, vem com vagar, de mansinho;
Mas se é pé-de-guerra, cuidado que de lá vem chumbo!
Se vem pé-d'água, espere toró e aguaceiro.
Se é pé-de-vento é redemoinho...
Pé-de-gancho ou Pé cascudo é o diabo!
Quem mete o pé no estribo encaminha a viagem;
Já pé-quente é o motorista ligeiro
Que mete o pé na tábua quando some na paisagem.
Se digo pé-de-página falo de rodapé de livro.
Já pé-de-moleque é doce de rapadura.
Para o pedreiro coluna de casa é pé-direito.
E pé-duro é caipira da roça, sem cultura...
Pé na cova é o doente nas últimas.
Azarado e sem sorte chamam de pé-frio.
Quem se arruína mete o pé no atoleiro.
Acaba pé-rapado, sem dinheiro nem brio.
Quem pisa no pé quer provocação;
Mas quem tem tirocínio tem sempre os pés-no-chão...

A poesia é do Alexandre Pelegi, mas o pé é meu.

 

O voador


César, caminhoneiro de profissão, sonhador por opçao e inventor porque acredita que é. Sonha em voar, construindo sua própria máquina. O que falta em recursos sobra em disposiçao e, numa oficina improvisada, à sombra de uma mangueira, ele transforma pedaços de alumínio e madeira na máquina voadora que batizou de Canitaú, um tipo de pássaro grande da Amazônia que tem um voo lento e delicado. "Quando ele era desse tamanhinho, já era doido por avião. Subiu num muro, apanhou palha de coqueiro, pôs uma embaixo de cada braço e se jogou. Plantou-se no chão e quase morre", conta o pai, e, depois de uma sonora gargalhada, continua, num misto de admiraçao e tristeza: "é uma pena que eu nunca tenha podido ajudar". É ele quem mostra a fábrica de sonhos do filho. O avião que começou a ser construído há seis anos ainda não levantou vôo. Será que já é hora de desistir? "Nunca - diz César- só quando morrer que desisto. No caixão não tem mais jeito, mas por enquanto..."

 

O homem que ensinou o mundo a voar


Foi há 100 anos. Eu fico emocionada quando penso no que um homenzinho daquele tamanho foi capaz de fazer. Nada de testes secretos numa praia deserta. Diante de uma multidão de curiosos, em Paris, Santos Dumont decolou para a eternização histórica.

sábado, outubro 21, 2006

 

Pergunte a Ms. Dewey


Sedutora, impertinente, sábia, inconveniente. Ms. Dewey é a verdadeira bomba inteligente. Com resposta para tudo na ponta da língua. Esqueçam o Google. Ms Dewey é quem tem as respostas.
O link é este. Have fun!

sexta-feira, outubro 20, 2006

 

Recado PÚBLICO

Wake up and smell the coffee!

O NOVO FASCISMO

O Assédio psicológico no local de trabalho no neo-liberalismo ou o novo fascismo

"No terror psicológico no trabalho distinguem-se três espécies de sujeito: o agressor, a vítima e os espectadores. (...) O agressor pode ocultar-se nos atos da diretoria da empresa, na hipótese do mobbing estratégico. Quanto à vítima, tudo é feito para que ela se sinta culpada e assim seja julgada pelos espectadores".

"Na medida em que o perverso logra afastar a vítima do convívio dos colegas, os ataques se amiúdam, reduzindo-se as chances de a vítima escapar. A pessoa ofendida é isolada, seja porque os colegas se aliam ao agressor e a evitam, seja porque o agressor consegue isolar fisicamente a vítima, obrigando-a a trabalhar em outro local em condições inferiores e humilhantes A essa altura, o perverso, que a princípio agia discretamente, ganha maior liberdade de ação frente à assistência passiva dos espectadores. A passividade destes se explica, por um lado pelo caráter sedutor da perversão, e mais uma vez vamos flagrar estreitas semelhanças entre o assédio moral e o totalitarismo."

"Por outro lado, a passividade daqueles que assistem aos ataques do sujeito perverso se explica pelo que Christopher Dejours denominou de banalização da injustiça social. Segundo esse autor, a sociedade atual, dominada pela competitividade desenfreada, pelo desemprego e precarização das relações sociais, vive mergulhada numa profunda crise ética. As pessoas, diante da inexorabilidade do desemprego, temerosas da exclusão social, suspendem o pensamento e desenvolvem a "tolerância à injustiça" escusando-se de reagir diante da perpetração do mal e, muitas vezes, colaborando com o "trabalho sujo" nos processos de enxugamento das empresas. Para Dejours, o processo de banalização da injustiça social é o mesmo tanto no neoliberalismo quanto foi a banalização do mal no nazismo".
(Texto encontrado no Estradas Perdidas, blogue do jornalista Nuno Ferreira)

 

A vingança do velho Acosta

Lembram-se do Beto Acosta, o argentino que jogava no Sporting no ano em que o clube de Alvalade ganhou o campeonato apos 19 anos de jejum? Pois o velho Acosta ficou muitas vezes de fora, sempre com a mesma desculpa: dor ciática. Doença de velho, pensava eu. Bastava colocar as expressões "ciática" e "Acosta" na mesma frase para toda a gente desatar a rir...
Pois cá se fazem, cá se pagam. Tanto brinquei com a ciática do Acosta, que a piada virou-se contra mim. E agora sou eu quem fica de fora por causa da ciática. Arrasto-me por aí a ganir, com uma dor atroz na perna esquerda, que começa bem lá em cima e se prolonga até ao joelho.
Acosta, hombre, eu não sabia. Era um trintinha inconsciente. Ciática? La puta madre!...

quinta-feira, outubro 19, 2006

 

A filha do boto


Reza a lenda que em noites de lua, o boto vira homem pra encantar e seduzir a cabocla. O fruto de uma noite de amor com o ser encantado é reconhecido por uma marca, um traço diferente, misturado ao indígena. Foi assim que o boto assumiu durante séculos a paternidade dos filhos sem pai da Amazônia, e, daqueles que, como Stéfanhi (a grafia é assim mesmo), têm o exótico da diversidade racial.
A imagem dela percorrerá o mundo, a partir do dia 1° de novembro, associada à indústria Amazongreen, empresa santarena que investe na fabricação de produtos de beleza, a partir de essências da flora amazônica.

 

Classificados


Nos classificados da China, um homem de 105 anos anda a procura de uma noiva de 50. O médico pra lá de experiente dá detalhes de requisitos que a pretendente deve ter: noçao de medicina e de literatura. Ah, como menos de 50 anos que é pra ter condiçoes de cuidar dele direitinho. Alguma interessada?
O segredo da longevidade, diz ele, é ter metas, objetivos de vida.

quarta-feira, outubro 18, 2006

 

Catarse

Às vezes eu tenho vontade de escrever aqui, mas me falta assunto. Às vezes me sobra assunto e eu não tenho vontade (ou coragem). E hj, que eu não tenho nem uma coisa nem outra, decidi que vou escrever assim mesmo (pressão). Catarse, talvez.

Vi um bebê morrendo, de um jeito horrível. Foi a manchete do dia na minha cidade.
Existem histórias, eu sei, que não deveriam ser partilhadas, elas nem deveriam existir. Daí a vida (as pessoas) tece uns roteiros tão loucos que supera o mais louco dos cineastas ( e por falar em cinema, o único da minha cidade fechou).
Uma mulher dá a luz a um bebê de 7 meses durante a noite. Menina. Daí ela abandona o bebê num lixeiro, dentro de um saco plástico, ainda com restos de placenta e cordão umbilical. Talvez pense que o nenem vá morrer sufocado em poucos instantes. Mas não é o que acontece. 9 horas da manhã e um garoto, brincando, ouve um choro baixinho e pensa que é um gato. Ele se aproxima de alguma coisa coberta por urubus. O menino grita, corre, chama o pai. Quem vai acreditar numa coisa dessas. Tem que ver pra cair a ficha de até onde pode ir a falta de razão humana. Logo, tem um grupo de curiosos, alguns afastam as aves que devoram o bebê. Os bombeiros chegam. Um deles pega a nenem. É tão pequena que não enche as duas mãos dele. Muito machucada, mas uma menina forte o bastante para chorar e mexer as pernas e os braços. As mãozinhas estão dilaceradas. No hospital, ela resiste a duas cirurgias. Mais algumas horas e deixa de sentir dor pra sempre.
Já desejei a morte desta mulher umas duzentas vezes hj, de muitas maneiras...

 

Schizfaifavore

O escritor brasileiro Mário Prata morou em Portugal durante um par de anos no final dos anos 1980. Quando regressou ao Brasil escreveu um popular dicionário Português-Brasileiro intitulado Schizfaifavore, há muito esgotado. Alguns verbetes estão desactualizados, mas outros, meus amigos, continuam a fazer todo o sentido. E são um bom retrato do povo que ainda somos. Aqui fica um par de exemplos:

GESTOR

Gestor é ADMINISTRADOR, o chefe. Como Portugal sempre viveu em funcão dos seus clãs, num sistema patriarcal, o chefe tem uma importância muito grande para eles, até hoje. Todo português tem um chefe a quem respeita como se respeita a Deus. O que o chefe mandar eles fazem. E só fazem o que eles mandarem. A hieraquia numa estatal portuguesa, é das coisas mais rígidas que já vi na minha vida. O que eles têm medo do superior é inacreditável. E isso faz com que ninguém crie. Fazem apenas o que está previsto. Ninguém ousa, ninguém inova. É realmente assustador. Doentio, mesmo.


DESCULPE LÁ

É o começo de uma explicação que eles vão lhe dar. Eles têm desculpa para tudo, explicacào para tudo. Eles são danados. Por mais que você os aperte, eles sempre levam a melhor, numa discussão. Sào imbatíveis. Jamais admitem estar errados, enganados. Pra tudo têm a sua desculpa. Desculpe lá, mas é verdade. Não tente ganhar uma discussão com um português.


 

O pensamento do dia

O homem político é um animal.


 

Pacheco Pereira

SAFA! Nunca pensei em vir a citar Pacheco Pereira. Irrita-me a maneira como ele usa o Abrupto para marcar a sua agenda política e irrita-me ainda o cinismo despudorado das suas críticas aos media, que ele melhor do que ninguém manipula em seu proveito. Mas reconheço-lhe muitas virtudes: a inteligência aguçada, a coragem física (mais do que a intelectual), a teimosia e a habilidade para me arrasar no tabuleiro de xadrez.
Dito isto, passo a transcrever um brilhante post do Abrupto (nem preciso de colocar o link - toda a gente sabe encontrá-lo). Gostava de ter escrito isto, mas infelizmente não sou nenhum JPP:
O Prós e Contras de ontem foi um programa de televisão notável, sobre o qual se poderia escrever um livro. Um livro sobre Portugal.

Breves notas sobre o debate que comentarei mais em detalhe noutro sítio: Por estranho que possa parecer, fruto também dos nossos preconceitos, os autarcas saíram-se muito melhor do que o Ministro António Costa, apoiado por Saldanha Sanches. Muito, muito melhor. A começar pelo que não se esperava que acontecesse: mostraram um grande domínio da realidade, um muito bom conhecimento dos mecanismos perversos da nova legislação, uma grande capacidade argumentativa e foram ... muito menos demagógicos do que o Ministro. António Costa foi de uma agressividade malcriada, roçando o insulto, autoritário e demagógico até ao limite. Fernando Ruas comportou-se com uma enorme delicadeza de trato face aos golpes baixos do Ministro, aos quais não era alheio um desprezo intelectual pelos seus interlocutores. E de "classe", diriam os marxistas, face a um Portugal a que ele claramente se acha superior. Por muito sofisticado que queira ser esqueceu-se de uma regra que funciona magnificamente em televisão: aqueles homens alguns rudes, outros tímidos, transmitiram muito melhor um sentimento de "dedicação" ao seu "povo" do que o governante, que se ria deles.

A maior parte das suas intervenções tem o toque do propagandista, a repetição até ao limite dos chavões de propaganda que ele quer fazer "passar". Confrontado com dados concretos, a começar pela acusação directa de ser responsável por casos de manipulação informativa, fugiu sempre incomodado, confirmando diante de todos a veracidade das acusações. Viu os seus números confrontados com acusações indesmentíveis, mas mesmo assim repetia-os sempre, de novo, para os fazer "passar". Esteve sempre a falar para fora, para a audiência, indiferente aos seus interlocutores que falavam para ele. Se isto se podia compreender em termos de eficácia propagandística, perdeu o efeito face ao autismo que revelava e, de novo, ao ostensivo desprezo pelos interlocutores.

Um desastre. O muito eficaz gabinete de imprensa de Costa vai ter que trabalhar muito para remediar os estragos.

terça-feira, outubro 17, 2006

 

O cantinho do heterossexual passivo

Ao chegar aos quarenta, a única coisa com gordura que o homem pode comer é a sua própria mulher.

segunda-feira, outubro 16, 2006

 

Rivoli

E não é que os "artistas" que "sequestraram" (adoro a utilização espúria desta expressão) o Rivoli conseguiram fazer nascer em mim uma insuspeita simpatia por Rui Rio? Os "artistas" do Teatro Plástico, que por acaso até concorreram à privatização do teatro (o desfecho do concurso ainda não é conhecido, razão pela qual a ocupação do teatro pode ser interpretado como uma nada súbtil e muito estúpida forma de pressão), conseguiram nas últimas horas o que nunca tiveram: público. Directos nas televisões e nas rádios, espaço nos jornais. E até o PÚBLICO criou um blogue para lhes dar tempo de antena. O mais irónico disto tudo é que é a própria câmara quem indirectamente financia o protesto, pois é a câmara quem suporta a companhia com os seus subsídios. Rui Rio não é um anjo - longe disso. Muito longe, mesmo. Mas, neste caso, parece-me que ele vai ter que empenhar o anel de rubi para tirar aquela gente do Rivoli.

 

OE

No OE, o Governo decreta uma baixa de seis por cento nos medicamentos comparticipados, o que parece ser uma boa notícia para os utentes. Mas... há sempre um "mas". Simultaneamente, o executivo baixa a comparticipação na compra dos medicamentos. Ou seja: dá com uma mão e tira com a outra. A última vez que o Governo fez esta gracinha os utentes ficaram a perder. Cheira-me a que a história se vai repetir. E este caso é um bom exemplo dos pequenos alçapões que o executivo espalhou pelo documento.
Este OE, supostamente restritivo,é mais doloroso sintoma da crise estrutural das finanças públicas portuguesas. É o OE decisivo, a meio do mandato, a última oportunidade, o OE que distingue the men from the boys. O Governo pede mais um esforço aos portugueses, promete cortes na despesa pública, diz que o desemprego vai baixar, que a inflacção vai diminuir. Mas também promete cortes nos investimentos, o que é preocupante. E sabemos na carne que não há margem para aumentar ainda mais a carga fiscal. Esperemos que a iniciativa privada continue a puxar pelo Estado, como tem acontecido no últimos meses. E que o Estado ajude - sobretudo não atrapalhando. Já não seria mau.

 

Pen drive?

O OE foi entregue em São Bento numa...Pen Drive! Será isto o choque tecnológico prometido por Sócrates?

 

Paulo Portas

Critiquei muitas vezes Paulo Portas, neste blogue (e não só). A sua duplicidade aborrece-me, a pose enfatuada e postiça de homem de Estado enfastia-me. A maneira como desmente com todos os dentes o que escreveu com as duas mãos é um atentado grave ao pudor. Mas não posso deixar de elogiar os textos que tem escrito na última página da Tabu, a revista do Sol (link). Textos limpos, escorreitos, bem estruturados. O desta semana, sobre o islamismo, diz o essencial e surpreende pela lucidez e até pela moderação. Que diferença entre este Paulo Portas e o outro (ou outros) - o Portas das Feiras, o da pose ministerial postiça, do dedo em riste.
Volta ao jornais, Paulo. Por mim, estás perdoado...

 

Portugal vale a pena

Eu conheco um pais que tem uma das mais baixas taxas de mortalidade de recem-nascidos do mundo, melhor que a media da União Europeia.
Eu conheco um pais onde tem sede uma empresa que é lider mundial de tecnologia de transformadores. Mas onde outra é lider mundial na producao de feltros para chapeus.
Eu conheco um pais que tem uma empresa que inventa jogos para telemoveis e os vende para mais de meia centena de mercados. E que tem tambem outra empresa que concebeu um sistema através do qual você pode escolher, pelo seu telemovel, a sala de cinema onde quer ir, o filme que quer ver e a cadeira onde se quer sentar.
Eu conheco um pais que inventou um sistema biométrico de pagamentos nas bombas de gasolina e uma bilha de gas muito leve que ja' ganhou vários premios internacionais. E que tem um dos melhores sistemas de Multibanco a nivel mundial, onde se fazem operacões que nao é possível fazer na Alemanha, Inglaterra ou Estados Unidos. Que fez mesmo uma revolucao no sistema financeiro e tem as melhores agencias bancárias da Europa (três bancos nos cinco primeiros).
Eu conheco um pais que está avançadissimo na investigacao da producao de energia através das ondas do mar. E que tem uma empresa que analisa o ADN de plantas e animais e envia os resultados para os clientes de toda a Europa por via informatica.
Eu conheco um pais que tem um conjunto de empresas que desenvolveram sistemas de gestao inovadores de clientes e de stocks, dirigidos a pequenas e medias empresas.
Eu conheco um pais que conta com varias empresas a trabalhar para a NASA ou para outros clientes internacionais com o mesmo grau de exigencia. Ou que desenvolveu um sistema muito cómodo de passar nas portagens das auto-estradas. Ou que vai lancar um medicamento anti-epileptico no mercado mundial. Ou que é lider mundial na produção de rolhas de cortica. Ou que produz um vinho que "bateu" em duas provas varios dos melhores vinhos espanhois. E que conta já com um nucleo de varias empresas a trabalhar para a Agencia Espacial Europeia. Ou que inventou e desenvolveu o melhor sistema mundial de pagamentos de cartoes pre-pagos para telemoveis. E que está a construir ou já construiu um conjunto de projectos hoteleiros de excelente qualidade um pouco por todo o mundo.
O leitor, possivelmente, nao reconhece neste Pais aquele em que vive – Portugal. Mas é verdade. Tudo o que leu acima foi feito por empresas fundadas por portugueses, desenvolvidas por portugueses, dirigidas por portugueses, com sede em Portugal, que funcionam com tecnicos e trabalhadores portugueses. Chamam-se, por ordem: Efacec, Fepsa, Ydreams, Mobycomp, GALP, SIBS, BPI, BCP, Totta, BES, CGD, Stab Vida, Altitude Software, Primavera Software, Critical Software, Out Systems, WeDo, Brisa, Bial, Grupo Amorim, Quinta do Monte d'Oiro, Activespace Technologies, Deimos Engenharia, Lusospace, Skysoft, Space Services. E, obviamente, a Portugal Telecom Inovaçao. Mas tambem dos grupos Pestana, Vila Gale, Porto Bay, BES Turismo e Amorim Turismo. E depois há ainda grandes empresas multinacionais instaladas no Pais, mas dirigidas por portugueses, trabalhando com tecnicos portugueses, que há anos e anos obtêm grande sucesso junto das casas mae, como a Siemens Portugal, Bosch, Vulcano, Alcatel, BP Portugal, McDonalds (que desenvolveu em Portugal um sistema em tempo real que permite saber quantas refeições e de que tipo sõo vendidas em cada estabelecimento da cadeia norte-americana).
É este o Pais em que tambem vivemos. É este o Pais de sucesso que convive com o Pais estatisticamente sempre na cauda da Europa, sempre com péssimos indices na educacao, e com problemas na saude, no ambiente, etc. Mas nós só falamos da parcela do Pais que esta' mal. Daquele que não acompanhou o progresso. Do que se atrasou em relacao media europeia. Está na altura de olharmos para o que de muito bom temos feito. De nos orgulharmos disso. De mostrarmos ao mundo os nossos sucessos – e não invariavelmente o que nao corre bem, acompanhado por uma fotografia de uma velhinha vestida de preto, puxando pela arreata um burro que, por sua vez, puxa uma carroca cheia de palha. E ao mostrarmos ao mundo os nossos sucessos, não só futebolisticos, colocamo-nos tambem na situacao de levar muitos outros portugueses a tentarem replicar o que de bom se tem feito. Porque, na verdade, se os maus exemplos sao imitados, porque nao hão-de os bons serem também seguidos?
Nicolau Santos, Director – Adjunto do Jornal Expresso. In Revista Exportar

domingo, outubro 15, 2006

 

Have you ever seen the rain?



O Amor e Ócio vestiu-se para o Outono. Para ser sincero, estávamos fartos do template antigo. Aproveitámos a mudança para actualizar mais ou menos a lista de links, que agora está à esquerda.
A mudança não é só de aspecto, mas também de atitude. É tempo de mais intervenção, quanto mais não seja para fazer frente aos dias frios que por aí estão a chegar. Frios e molhados, o que nos leva aos Credence Clearwater Revival. Vá lá saber-se porquê, mas esta era umas músicas favoritas lá de casa, quando eu era um rapazola inconsciente. Someone told me long ago theres a calm before the storm. Nada mais certo. É a vida, como dizia o engenheiro. Não este engenheiro, que não tem dúvidas e raramente se engana. Falo do outro engenheiro, o que não se calava com as coisas que não fazia.

Someone told me long ago theres a calm before the storm,
I know; its been comin for some time.
When its over, so they say, itll rain a sunny day,
I know; shinin down like water.


I want to know, have you ever seen the rain?
I want to know, have you ever seen the rain
Comin down on a sunny day?

Yesterday, and days before, sun is cold and rain is hard,
I know; been that way for all my time.
til forever, on it goes through the circle, fast and slow,
I know; it cant stop, I wonder.

 

RB

As raízes enfiam-se na terra, contorcem-se na lama, crescem nas trevas; mantêm a árvore cativa desde o seu nascimento e alimentam-na graças a uma chantagem: «Se te libertas morres!».
As árvores têm de se resignar, precisam das suas raízes; os homens não.

[Amin Maalouf, Origens]

 

O Mestre das Escaramuças, por António Barreto

Eu sei que este post é enorme, mas o texto de António Barreto no PÚBLICO (link) de hoje é tão bom que merece a maior divulgação possível. Por isso aí vai:

O primeiro-ministro tem jeito. Talvez mesmo talento e intuição. Decidiu, desde o primeiro dia, surpreender e tomar a iniciativa. Nunca ir atrás do acontecimento, mas provocá-lo. Para tal, escolheu um método: designar o adversário, denunciar um privilégio, tomar uma medida e atacar com a lei. Tudo isto tendo ao seu serviço uma inédita concentração de poderes e uma imbatível organização de informação, mas reservando sempre para ele o início da operação e o anúncio da surpresa. Juízes, farmacêuticos, professores, deputados, médicos, advogados, reformados, idosos, autarcas e funcionários públicos sucederam-se na honrosa lista das corporações que importava apear dos seus poleiros. Apenas foram poupados os grandes grupos económicos, com os quais o governo entendeu estabelecer bases para uma aliança sólida. Escolas de reduzida dimensão, "maternidades" e equiparadas, centros de urgência médica, tribunais e câmaras municipais foram apenas algumas das instituições visadas pela inesgotável energia reformadora do governo. Em muitos casos, o êxito foi imediato. A aspirina no supermercado foi louvada por quase toda a gente. Obrigar os professores a ficar mais tempo na escola foi visto como um gesto de sabedoria e autoridade. Fazer ajoelhar os autarcas de todo o país foi bem visto e mais bem comentado nos salões e cafés. E muitos foram os que acharam "bem feito" ter-se tirado um mês de férias aos magistrados que, supostamente, gozariam dois ou três. O problema é que chegou a vez dos grandes números: mães e pais, idosos, professores, doentes, pensionistas e funcionários públicos, somados, fazem muita gente. José Sócrates vê-se agora obrigado, não mais a seleccionar alvos de estimação, mas pura e simplesmente a olhar de frente para toda a população.

Até agora, temos estado perante uma estratégia consolidada e deliberada. A autoridade do primeiro-ministro sobre os seus ministros é indiscutível, como talvez não se tenha visto em Portugal há várias décadas. A organização da propaganda e das relações públicas, servida por centenas de profissionais, tem-se revelado impecável. A nomeação de inimigos, privilegiados e culpados, tem seguido um método eficaz. É o género de pessoa que, de manhã, quando se levanta, deve perguntar-se: "Com quem é que me vou meter hoje?". O seu método da acção tem destroçado os adversários políticos: inunda o país de medidas, semeia escaramuças em todas as esquinas e reserva sempre a iniciativa para si. Concede a despenalização do aborto ao Partido Socialista, mas não lhe dará absolutamente mais nada. Vai oferecer o que pode à Igreja Católica, na educação, na segurança social e no património, para compensar a interrupção voluntária da gravidez. A alguns socialistas mais fiéis vai dar uma regionalização, que prepara sub-repticiamente, com o que espera compensar os mortos e feridos das finanças locais. Procura a empatia e a colaboração do Presidente Cavaco Silva, mas sabe o perigo que corre: este, quando lhe disser "não", terá tanto mais autoridade quanto lhe terá repetidamente dito "sim".

Reconheça-se que, entre tantas medidas e no meio desta pletora de intenções, há muito que se aproveite. O controlo da despesa pública, a poupança no gasto, a austeridade nos serviços públicos, o remendo da Segurança Social e a ordem nas escolas, por exemplo, implicam dispositivos e determinações cuja bondade, geralmente imposta pela necessidade, é indiscutível. Mas, com o tempo, tem-se também percebido que a técnica do primeiro-ministro se tem limitado ao superficial. Nunca ir até ao fim parece ser a sua regra. Ferir um pouco tudo e todos, mas nunca ir ao fundo das coisas, pois é aí que se fazem os inimigos irrecuperáveis. A actual reforma da Segurança Social, feita com vinte anos de atraso, é um exemplo interessante: foi obra das mesmas pessoas que, há meia dúzia de anos, fizeram uma outra, para Guterres e Sócrates, considerada suficiente para "cem anos"! É um bom exemplo do que é a superficialidade.

Houve uma altura, aqui há uns meses, em que se chegou a pensar que o primeiro-ministro estava disposto a ultrapassar o efémero e o remendo. Mas agora as ilusões acabaram. A diminuição significativa da função pública e o congelamento dos vencimentos, por vários anos, não serão as suas políticas. A redução drástica das prestações sociais não será obra sua. A alteração radical da política de pescas e de fomento agrícola e hidráulico não terá a sua autoria. A nova política de fomento florestal não será elaborada nem posta em prática por este governo. A entrega definitiva das escolas às comunidades educativas e às autarquias locais não será feita por ele. A modificação da lei eleitoral e a consagração do princípio da eleição directa e nominal não serão realizações suas. Como sua não será a criação de órgãos externos de controlo das universidades. Um código severo de incompatibilidades na acumulação de funções públicas e privadas na educação e na saúde não será aprovado por si. E a proibição de passagem promíscua de cargos políticos para empresas privadas e públicas ou vice-versa não será decretada por ele. Como não será ele que acabará com as nomeações "por confiança política". Nem imporá prazos imperativos aos magistrados judiciais e aos procuradores do ministério público. Não será capaz de acabar com a perpetuidade do emprego público. Nem saberá tornar muito mais flexível o mercado de trabalho, como não desejará dar um pouco mais de garantias aos trabalhadores precários.
Quando monologa, José Sócrates é um homem doce e de aparência convincente. Se contrariado, revela uma rispidez ácida e uma pulsão vingativa surpreendentes. No Parlamento, atinge facilmente um grau de cólera pouco adequada a quem tem ainda de correr um longo caminho, a quem sabe que o mais difícil está para vir. O Mestre das Escaramuças especializou-se em raides súbitos. Não parece preparado para as grandes batalhas. Mas esperemos. Dentro de pouco mais de um ano, com novas eleições à vista, veremos se até o efémero e a superficialidade são ou não sacrificados à demagogia. Como já aconteceu antes. Tantas vezes!

sexta-feira, outubro 13, 2006

 

Droga e jornalismo (ou droga de jornalismo?)

Há sempre uma primeira vez para tudo, mas confesso de que não estava à espera daquilo que se passou hoje no estádio Mário Duarte, em Aveiro. Os jornalistas que se deslocaram ao estádio para cobrir o jogo foram obrigados por dois polícias com ar de poucos amigos a colocar no chão os sacos em que carregavam os computadores e outras coisas pessoais (e profissionais). Depois os polícias trouxeram um cão (um belo retriever de Labrador, by the way) que farejou os sacos à procura de drogas. De drogas e se calhar de explosivos, mas isso os polícias não quiseram esclarecer.
Num primeiro momento fiquei indignado, até porque no corredor ao lado, separados apenas por um vidro, os "vips" da bola iam entrando à vontade no estádio sem que ninguém os interpelasse. Eles de cabelo domado com brilhantina, alguns com as inevitáveis pochettes, e elas com as malas Louis Vuitton compradas na feira de Espinho. Mas depois pensei melhor e compreendi a atitude dos polícias (absolutamente inédita para mim, e olhem que já cobri campeonatos do mundo e da europa): nos dias que vão correndo, é preciso andar metido na droga para ter vontade de continuar a ser jornalista. E deve haver muitos jornalistas com vontade de mandar tudo pelos ares.
Por isso, toca a farejar os jornalistas à procura de produtos ilícitos. Sugiro até ao ministro da Administração Interna que coloque detectores de metais à entrada das redacções, que faça testes surpresa de despistagem de drogas na bancada de imprensa, autorize a busca nas cavidades corporais e por aí fora. E, se calhar, talvez fosse aconselhável obrigar os jornalistas, esses malandros pedrados, bombistas potenciais com comportamentos socialmente desviantes, a usar uma estrela amarela no braço. A bem da Nação.

terça-feira, outubro 10, 2006

 

Barcelona

Há sol em Barcelona. Há gente bonita nas esplanadas e gente apressada nas ruas. Há muitos táxis amarelos e risos no ar. Barcelona é uma daqueles lugares com uma vocaçao incontornável para a felicidade. Chego aqui e sinto-me em casa. Se por um milagre ou golpe absurdo de ciencia pudesse habitar num mundo paralelo, acho que gostaria de morar em Barcelona.
Ontem â tarde parei o carro junto a uma daquelas tascas cheias de fumo de tabaco (nada como os catalaes para driblarem as lei anti-tabagistas de Zapatero) e comi a melhor sanduiche de jamon da minha vida. E depois queimei duas horas a discutir futebol e politica com um grupo de velhos e novos catalaes. Faladores, rapidos a argumentar, apaixonados e, obviamente, anti-Figo. Percebo bem que, mesmo passados estes anos, nao tenham perdoado ao portugues a desfeita de rumar ao Real Madrid. Atraiçoar esta cidade é um pecado. Depois eu escrevo mais. Agora vou terminar a manzanilla e tentar nao pensar no que me espera em Portugal. Ser alienado desta maneira ate que nao custa muito.

 

LOPES !!!

«Não há uma elite dirigente em Portugal. O que vejo é o imediatismo de um sucesso pessoal que é precisamente a negação dessa elite.»

Ernâni Lopes, economista e ex-Ministro das Finanças.

 

PINTO !!!

«As pessoas que trabalham comigo sabem que nos momentos de grande crise, quando é preciso reflectir e tomat decisões, vou para a Zara.»

Maria José Nogueira Pinto, vereadora da Câmara Municipal de Lisboa.

 

SANTOS !!!

«Daqui a uns tempos vão bater palmas e no fim, se calhar, muitas palmas.»

Fernando Santos, treinador do Benfica, a propósito dos lenços brancos dos adeptos.

quinta-feira, outubro 05, 2006

 

Refúgios



Eu sei que já não é novidade, mas só agora comecei a achar graça ao Google Earth. E ando fascinado. Big brother is watching us. Mas não deixa de ter piada...

 
My mom said I could (very funny)

Puro prazer

segunda-feira, outubro 02, 2006

 
À hora a que escrevo, as sondagens indicam que vai haver uma segunda volta nas eleições presidenciais brasileiras. A confirmar-se esta previsão, Lula tem em risco a reeleição e Alckmin cala os que duvidaram dele dentro e fora do PSDB. Está tudo em aberto, felizmente, e pode até acontecer que Lula e os seus 40 ladrões sejam efectivamente corridos do Planalto. O próximo mês vai ser escaldante.
Se Lula vingar, resta-nos esperar que as instituições funcionem. Nixon e Collor também foram eleitos pelo povo e acabaram depostos pelas instituições. Pela Lei, com maiúscula.

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