quarta-feira, outubro 18, 2006

 

Pacheco Pereira

SAFA! Nunca pensei em vir a citar Pacheco Pereira. Irrita-me a maneira como ele usa o Abrupto para marcar a sua agenda política e irrita-me ainda o cinismo despudorado das suas críticas aos media, que ele melhor do que ninguém manipula em seu proveito. Mas reconheço-lhe muitas virtudes: a inteligência aguçada, a coragem física (mais do que a intelectual), a teimosia e a habilidade para me arrasar no tabuleiro de xadrez.
Dito isto, passo a transcrever um brilhante post do Abrupto (nem preciso de colocar o link - toda a gente sabe encontrá-lo). Gostava de ter escrito isto, mas infelizmente não sou nenhum JPP:
O Prós e Contras de ontem foi um programa de televisão notável, sobre o qual se poderia escrever um livro. Um livro sobre Portugal.

Breves notas sobre o debate que comentarei mais em detalhe noutro sítio: Por estranho que possa parecer, fruto também dos nossos preconceitos, os autarcas saíram-se muito melhor do que o Ministro António Costa, apoiado por Saldanha Sanches. Muito, muito melhor. A começar pelo que não se esperava que acontecesse: mostraram um grande domínio da realidade, um muito bom conhecimento dos mecanismos perversos da nova legislação, uma grande capacidade argumentativa e foram ... muito menos demagógicos do que o Ministro. António Costa foi de uma agressividade malcriada, roçando o insulto, autoritário e demagógico até ao limite. Fernando Ruas comportou-se com uma enorme delicadeza de trato face aos golpes baixos do Ministro, aos quais não era alheio um desprezo intelectual pelos seus interlocutores. E de "classe", diriam os marxistas, face a um Portugal a que ele claramente se acha superior. Por muito sofisticado que queira ser esqueceu-se de uma regra que funciona magnificamente em televisão: aqueles homens alguns rudes, outros tímidos, transmitiram muito melhor um sentimento de "dedicação" ao seu "povo" do que o governante, que se ria deles.

A maior parte das suas intervenções tem o toque do propagandista, a repetição até ao limite dos chavões de propaganda que ele quer fazer "passar". Confrontado com dados concretos, a começar pela acusação directa de ser responsável por casos de manipulação informativa, fugiu sempre incomodado, confirmando diante de todos a veracidade das acusações. Viu os seus números confrontados com acusações indesmentíveis, mas mesmo assim repetia-os sempre, de novo, para os fazer "passar". Esteve sempre a falar para fora, para a audiência, indiferente aos seus interlocutores que falavam para ele. Se isto se podia compreender em termos de eficácia propagandística, perdeu o efeito face ao autismo que revelava e, de novo, ao ostensivo desprezo pelos interlocutores.

Um desastre. O muito eficaz gabinete de imprensa de Costa vai ter que trabalhar muito para remediar os estragos.

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