segunda-feira, maio 21, 2007

 

Voltámos ao fascismo?

Querem saber o que me aconteceu? Pois estava em casa sossegado a trabalhar ao computador e a fumar um charuto quando tocaram à campainha. Era a vizinha. Gira, por sinal. Quando abri a porta ela começou logo a censurar-me por estar a fumar. Garante a vizinha (gira, por sinal) de que o meu charuto empesta a casa dela, que fica a do outro lado do corredor, separada por duas portas grossas (uma da conduta do lixo) e pelo elevador. Que não pode ser, diz a vizinha (gira, por sinal), que eu não posso fumar num prédio deste requinte (moro no Parque dos Princípes, que, segundo me contam, é uma "zona bem" de Lisboa. A vizinha gira ameaça correr-me do prédio numa reunião de condóminos se eu não parar de fumar...
Ainda balbuciei que não fumo cigarros, que só fumo um charuto quando o "rei faz anos", tentei dizer que estava em minha casa, essas coisas, mas ela não me deu chance. Ou páro de fumar ou tenho-a à perna (o que não será totalmente desagradável, ató porque ela fica ainda mais gira quando se zanga).
Agora estou apavorado. E se ela descobre que sou judeu? Judeu e fumador ocasional de charutos. Devo passar a usar uma estrela amarela para poder frequentar "um prédio deste requinte"? Serei digno de Telheiras? Onde vou eu a esta hora encontrar uma estrela amarela.
Peço aos meus amigos que liguem de vez em quando para o telemóvel. Que me procurem em casa a ver se estou bem. Corro perigo de vida. Ouço ruídos uspeitos no átrio do prédio. Eles vêm aí para me pegar. A mim, o cavernícola que fuma charutos no seu próprio lar, de porta fechada e longe do olhar de toda a a gente. SOCORRO!

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