quarta-feira, fevereiro 07, 2007
CONCURSOS ( 3 )
Ainda a propósito do Concurso «Os Grandes Portugueses»...
Vejamos, a título de exemplo, alguns espantosos fragmentos sobre educação proferidos ou escritos pelos «teóricos» e «intelectuais» do «Estado Novo»:
«Portugal não necessita de escolas (...) ensinar a ler é corromper o atavismo (...) Na nossa terra há alguns espíritos sem preparação mental que se interessam pela obrigatoriedade do ensino primário, como se fosse uma das primeiras necessidades fisiológicas do povo.» João Amaral, in « A VOZ » (citado por Rui Grácio)
«Uma reforma legislativa, inspirada por um belo ideal democrático, mas que devia comportar, ao contacto com os factos, graves inconvenientes, abriu o acesso do ensino secundário aos filhos das classes inferiores (...) Importa, antes de mais nada, pôr fim a esta superprodução legal de forças intelectuais, porque é um factor de déclassement social, porque dá origem a esta multidão de semiproletários, una saídos da massa operária, e que jamais se tornarão burgueses, e outros vindos do alto, e que nunca se resignarão à sorte dos simples trabalhadores, todos profundamente desolados e inclinados à revolta (...) Será indispensável moderar as aspirações desrazoáveis que impregnam o espírito dos pobres e dos humildes, será preciso destruir essa grande ilusão de que a cultura dá infalivelmente riqueza e poder.» Eusébio Tamagnini, Ministro da Educação Nacional
«Que se afixem nas Escolas Primárias, Liceus, Bibliotecas, etc., quadros morais com frases como a seguinte: advogados sem causa, médicos sem clientela, arquitectos sem trabalhos, a vossa instrução nem sempre vos servirá para combater a adversidade, ao passo que um bom ofício salvou sempre o operário corajoso, permitindo-lhe afrontar a inclemência da sorte.» Decreto-Lei nº 22 040
«Ensinar o povo português a ler e a escrever, para tomar conhecimento das doutrinas corrosivas de panfletários sem escrúpulos (...) é inadmissível. Logo concluo eu: para a péssima educação que possui e para a natureza da instrução que lhe vão dar, o povo português já sabe demais. (...) Um dos factores principais da criminalidade é a instrução.» Alfredo Pimenta, in «A Voz» (citado por Rui Grácio)
«O Mestre não é um burocrata, mas um modelador de almas e de portugueses. Quem, por aberracção o não quiser ser, haverá de retirar-se.» Carneiro Pacheco, Ministro da Educação Nacional, 1936
«(...) O professor deve em geral ser um apóstolo, e particularmente é preciso que o seja quando é chamado a colaborar através da escola em alguma obra social ou mesmo política que exprima o idealismo fundamental do Estado Novo. Então não deve a sua escola ser deixada ao critério de um concurso.» Preâmbulo do Decreto-Lei nº 30 551
«Deformar o espírito de quem aprende é a maior das desgraças. É melhor deixá-los analfabetos, do que com o espírito deformado. (...) Se nós queremos entregar esses 1 600 000 analfabetos nas mãos de qualquer professor, esses homens podem vir a transformar-se em inimigos da sociedade.» ) Pinto da Mota, deputado, 1938
«O analfabetismo em Portugal vem de longe e isso não impediu que a nossa literatura fosse em determinadas épocas extremamente rica.» Salazar, 1938
«(...) Impregnar de espírito religioso as matérias escolares, de tal modo que a religião seja o fundamento e a coroação de todo o esforço educativo.» ) Portaria nº 22 966, de 17/10/67