quinta-feira, setembro 14, 2006

 

Materna doçura


As mulheres, sempre as mulheres. Os filmes de Pedro Almodóvar estão cheios delas e Volver/Voltar não foge à regra. O filme, que estreou na semana passada em Portugal, tem Carmen Maura, Lola Dueñas e sobretudo tem Penélope Cruz. Tem gente assombrada por segredos dolorosos e risos que se transformam em lágrimas para a seguir se transformarem de novo em risos. Em Volver/Voltar nada é o que parece e no entanto é fácil de adivinhar o destino daquelas pessoas, daquelas duas irmãs que afinal são três, daquela mãe que regressa do esquecimento para fechar feridas antigas. E abrir outras.
Volver/Voltar tem mortes, fantasmas, incesto e mais um par dos habituais temas fracturantes do universo Almodóvar, mas nem por isso é um filme soturno. Mesmo no meio do vendaval mais forte, as mulheres de Volver mantêm uma centelha de alegria pura que é uma das imagens de marca do realizador. Almodóvar manipula os sentimentos das personagens e dos espectadores com grande subtileza, numa demonstração de que percorreu muito caminho desde os tempos desvairados de Mulheres à Beira de Um Ataque de Nervos.
Carmen Maura, regressa neste filme ao universo de Pedro Almodóvar e é como se nunca tivesse partido. A sua personagem tem a dose necessária de desequilíbrio para ser convincente. Yhoana Colbo faz de filha e é, sem dúvida a nova “chica” de Almodóvar. Lola Duenãs está soberba na réplica a Maura e sobretudo a Penélope Cruz. E esta tem com Volver/Voltar provavelmente o melhor papel da sua carreira. Almodóvar filma-a com uma atenção que roça a lúxuria, tornando-a numa espécie de reincarnação de Sophia Loren. Filma-a de cima para baixo, com um grande plano lúbrico sobre os seus seios pesados, ao mesmo tempo apetecíveis e maternais; segue os seus passos bamboleantes na rua, amplia o seu olhar magoado, revela as lágrimas que brotam ao ritmo de um tango antigo de Gardel e Le Pêra. E ela retribui com uma interpretação convincente, carregada de sensibilidade e manha. E de grande sensualidade.
Volver/Voltar não é apenas um filme de mulheres ou sobre mulheres. É, sobretudo, um grande filme. Pode não ter o brilho de Fala Com Ela, mas também ninguém consegue ser genial a tempo inteiro..

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