sábado, agosto 26, 2006

 

Irritar o Príncipe

Vale José Sócrates mais do que a lei? A resposta é obviamente “não”, mas esperemos que não seja preciso lembrá-lo disso. O primeiro-ministro já mostrou que está genuinamente convencido de que a co-incineração é a melhor solução para resolver o problema dos resíduos industriais perigosos. É natural que esteja impaciente. Mas será legítimo que se avance para a queima de resíduos na cimenteira de Souselas sem o estudo de impacte ambiental exigido por lei (sim, eu sei que no tempo da Maria Cachucha foi feito um estudo, mas em meia-dúzia de anos tudo muda – o tempo, as pessoas, as cimenteiras, as autarquias, os Governos e por aí fora). Será razoável avançar sem que sejam avaliados os riscos para a saúde das pessoas? Sem que se conheça ponto por ponto o teor do contrato celebrado entre o Estado e as cimenteiras?
Se calhar, tendo em conta o que ficou para trás, talvez a decisão da Câmara de Coimbra não dê assim tanta vontade de rir. Talvez não seja apenas um gesto romântico ou uma jogada mediática com cheirinho a demagogia. Arranhada a superfície, encontra-se ali alguma genuína preocupação com o bem-estar das pessoas e uma confiança (se calhar ingénua) no império da lei. Para já teve o mérito de voltar a colocar o tema na agenda noticiosa e de mostrar que com imaginação é possível colocar um pauzinho na engrenagem. Se o Governo vier a mudar a lei sobre o transporte de resíduos perigosos, como ameaçou esta semana o Ministro do Ambiente, a câmara de Coimbra já pode vir a pública reclamar uma vitória moral. Pequenina, mas suficiente para irritar o Príncipe.

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