sábado, agosto 26, 2006

 

Co-incinerados?


A decisão da Câmara de Coimbra de impedir a circulação de resíduos industriais perigosos na estrada municipal de Souselas cheira a desespero. Parece um truque manhoso de um advogado manhoso de província em crise de inspiração. Ou uma daquelas notícias próprias da silly season, que nos fazem rir. Infelizmente, o caso Souselas não tem graça nenhuma.
A novela arrasta-se há meia-dúzia de anos e não é preciso ser a taróloga Maya ou o professor Karamba para adivinhar que não vai ter um final feliz para a gente de Souselas. Quando passou pelo Ministério do Ambiente, José Sócrates já tinha tentado impor a co-incineração na cimenteira de Souselas. Mas esses eram os tempos do diálogo estéril, do debate tantas vezes inconsequente, das falinhas mansas. Da maioria relativa. Esses eram os tempos do país relativo, a balançar sem cair num parlamento dividido ao meio. Sócrates foi nessa altura vergado pela doentia indecisão do seu chefe de Governo e pela vontade de alguns barões do seu partido, uma espécie de capitães donatários de Coimbra. Hoje as coisas mudaram. Dois primeiro-ministros em fuga, um terceiro demitido por má figura e um país a clamar por autoridade colocaram Sócrates em São Bento com maioria absoluta. O Chefe de Governo e secretário-geral do PS vale hoje mais do que o seu partido; vale mais do que todos os barões, baronetes, capitães donatários e terra-tenentes; mais do que presidentes de câmara, comentadores de televisão ou líderes históricos na reforma. Ainda não o vimos, como Luís XIV de França, dizer “l’ État c’est moi”, mas já faltou mais. Passe o exagero.

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