quinta-feira, junho 29, 2006

 

Atiçar um leão com um pau

De vez em quando sabe bem um amor exagerado à pátria, mesmo que seja por causa do futebol. Mesmo que seja por tempo limitado. Eu sei que há gente como Pacheco Pereira que nunca vai entender este sentimento, mas paciência. Foi redentor ver “a malta das naus” de Scolari a benzer-se com a mão esquerda em Nuremberga enquanto com a direita ia esganando os holandeses. E há uma deliciosa ironia no facto de os nossos marinheiros de pêlo hirsuto serem agora comandados por um almirante brasileiro. Tenho a certeza de que o Padre António Vieira seria o primeiro a erguer-se para aplaudir o triunfo de Nuremberga, ele que chegou a invectivar Deus e os santos em nome das armas portuguesas durante os combates em solo brasileiro contra os soldados da Companhia Holandesa das Índias Ocidentais.
Mas, até nesta coisa do chauvinismo, convém não passar das marcas. Os espanhóis, por exemplo, foram de uma arrogância extrema em relação os franceses, esquecendo-se que foram estes que inventaram o chauvinismo, através de Nicolas Chauvin, soldado de Napoleão celebrizado como um patriota fanático pelas comédias dos irmãos Hippolyte e Theódore Cogniard . Há um velho provérbio africano que acabei de inventar que diz que não se deve atiçar um leão com um pau. Mesmo que seja um leão velho, gordo e francês. É melhor pensarmos nisso enquanto preparamos o jogo contra a Inglaterra.
(Texto do PÚBLICO - link)

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