domingo, fevereiro 05, 2006

 

Hi-Ho Silver!

Esta coisa dos dois cowboys que se apaixonam um pelo outro nas montanhas e pradarias do Wyoming e do Texas devia dar-nos que pensar. Está certo que se trata de uma ficção filmada com subtileza por Ang Lee, mas quantas vezes já ouvimos dizer que a realidade ultrapassa a ficção? Se as montanhas de Brokeback escondem o segredo da paixão de Ennis e Jack, quantos segredos esconderá a América profunda? Nem vale a pena ir tão longe: quantos segredos haverá para revelar aqui bem perto, no nosso mundinho, na nossa rua, na casa ao lado da nossa? Ou até dentro de portas?
Vamos por partes. O romance “gay” de Ennis e Jack no filme “O Segredo de Brokeback Mountain, que estreia na próxima quinta-feira em Portugal e é candidato ao Óscar de melhor filme do ano, vem colocar sob suspeita todos os cowboys da nossa infância. Texas Jack, Búfalo Bill, Billy the Kid, David Crocket e todos os pistoleiros solitários dos livros de banda desenhada e das tarde de cinema ganham uma aura diferente depois de se conhecer o segredo das montanhas Brokeback. Não escapa ninguém. A amizade entre o Justiceiro Solitário e o seu fiel escudeiro Tonto fica imediatamente colorida. Dizer que Lucky Luke dispara mais rápido que a própria sombra é coisa para provocar risinhos nervosos. Butch Cassidy and the Sundance Kid, Paul Newman e Robert Redford cavalgando a toda a brida nas pradarias? Não sei, não. Aquele chapéu com cauda usado por David Crocket começa de repente a fazer sentido. O único cowboy acima de qualquer suspeita talvez seja mesmo John Wayne, mas, nos tempos que vão correndo, nem por esse ponho as mãos no fogo.
Se algum mérito tem o filme de Ang Lee é o de demonstrar que, no século XXI, sexo oposto é cada vez mais o que está à nossa frente. Aliás, o sexo e as suas implicações são, provavelmente o que menos interessa nesta história. O mais importante, talvez seja o direito de uma pessoa amar outra pessoa, independentemente do género desta, do sítio onde mora, da sua profissão, da religião que professa. Já se sabia que o amor não escolhe idades. Aos poucos vamos percebendo (uns mais rapidamente do que outros) que o amor não escolhe sexos. Nem pode ser travado por montanhas, mesmo que estas se chamem Quebra-Costas (Brokeback). O amor simplesmente acontece.

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