quinta-feira, fevereiro 09, 2006

 

Fanatismo e manipulação

Acabo de chegar de uma curta deslocação de três dia a um país mulçumano. É tarde, estou cansado, mas queria deixar a quente duas ou três coisas.
1. Sinto VERGONHA, muita vergonha pelo comunicado divulgado pelo Ministro dos Negócios Estrangeiros sobre o caso dos cartoons. O que quer Freitas do Amaral? Ser secretário-geral da ONU, já que os portugueses não o querem para PR? O comunicado é idiota, o tom em que está escrito é indigente. E não há tacticismo geo-político que o justifique.
2. Os cartoons foram publicados em Setembro.SETEMBRO!
3. A "fúria" muçulmana estourou só agora porquê? Terá alguma coisa a ver com o facto de alguns religiosos terem andado de país em país a incendiar os ânimos? Terá alguma coisa a ver com a vitória do Hamas na Palestina? Com o endurecimento da posição do Irão, cujo presidente nega a existência do Holocausto e promete varrer Israel do mapa?
4. Os muçulmanos que incendeiam embaixadas, queimam bandeiras da Dinamarca, assassinam padres católicos viram os cartoons? Não, claro. Convém não esquecer que o editor do jornal jordano que publicou parte dos cartoons (gesto único no mundo árabe) foi primeiro despedido e depois preso. Já agora: os que condenaram Salman Rushdie à morte por causa dos Versículos Satânicos leram ao menos o livro? E será que se sentem responsáveis pelo ódio que a sua atitude causou e que acabou em pelo menos duas tentativas de assassinato de tradutores da obra, uma bem sucedida?
5. Os cartoons desrespeitam o profeta e são produto da dissolução de costumes própria do Ocidente? Então o que dizer das centenas de cartoons publicados todos os anos em jornais de lingua árabe em que os judeus são retratados de uma forma humilhante? Em que são comparados a animais (a porcos, invariavelmente). Freitas do Amaral nunca os viu? Nunca existiram? São ficção?
6. Quem é esta gente que protesta nas ruas? Será a mesma gente que as câmaras das televisões captaram a celebrar os atentados de 11 de Setembro e de 11 de Março?
7. Porque é que quando extremistas se fazem explodir num autocarro em Londres ou em Telavive estas boas almas muçulmanas não vêm para a rua protestar contra a violência? Caricaturar o profeta é um crime inominável, mas espalhar a morte e o terror não?

É tarde, estou cansado, não quero ir longe de mais. Só quero dizer que há escolher com lucidez o lado da barricada. Com lucidez e bom senso, para evitar fanatismos também deste lado.Mas a tolerância não deve ser confundida com fraqueza. O politicamente correcto não deve retirar-nos discernimento. O Ocidente não tem as mãos limpas, nem é bacteriologicamente puro. E o tempo das Cruzadas acabou. Mas há que perceber isto: o Islão (ou pelo menos os seus líderes) estão em guerra com o mundo. Com o nosso mundo. Pessoalmente, prefiro eventuais excessos de liberdade à censura e à tirania.

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