segunda-feira, novembro 21, 2005

 

Da imprensa

«(...) nesta melancólica campanha, que lhe corre mal e não se endireita, Soares chegou inesperadamente a uma certa grandeza. Mesmo errando em tudo, ou quase tudo, não erra no principal: a fidelidade a si próprio e ao que sempre desejou na vida. Herdeiro de uma grande tradição política e parte proeminente dela, não suporta um homem sem passado, autoritário e vazio, à frente da República. Aristocrata e cosmopolita, odeia esta "Europa" incivilizada e "americanizada", dividida e conflituosa, que se afunda pouco a pouco, entregue a nulidades de ocasião. E não consegue ficar quieto no seu canto, "empalhado", "Pai da Pátria", enquanto cai à volta tudo aquilo que ele admirou e por que sofreu. A coragem de resistir nunca lhe faltou e não lhe faltou agora, na altura mais difícil. É bom que ele exista.»

Vasco Pulido Valente, «É bom que ele exista», Público, 20.11.2005

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