domingo, outubro 09, 2005

 

Ontem foi um dia bom

Ontem foi um dia bom. Sem gritarias, comícios, ou políticos nas rádios e nas televisões a debitarem banalidades, sem engravatados a prometerem futuros radiosos, amanhãs que cantam. Ontem foi um dia sem carros de som, arruadas, sem gente de bandeira em punho distribuindo panfletos, chouriços, casacos de cabedal. Foi um dia em que as pessoas normais recuperaram os passeios e as praças das terras onde moram, onde o sossego dos parques não foi interrompido pelos hinos estridentes dos partidos, um dia em que foi possível desfrutar o sol de Outono numa qualquer esplanada, em que foi possível namorar em sossego. Ontem foi um dia bom. Mas acabou-se.
E acabou-se, porque hoje tudo recomeça. A algazarra regressa para ficar durante muitos e muitos meses. Hoje vota-se, depois contam-se os votos, depois vai haver gente nas rádios televisões e jornais a explicar a explicar-nos o mundo. Vai ser assim até às tantas. E o ciclo recomeça. Não haverá tempo sequer para digerir os resultados das autárquicas. Os jornais vão encher-se de listas de vencedores e perdedores, novos protagonistas vão surgir do nada e velhas caras vão retirar-se para a penumbra, umas para sempre, outras temporariamente. E depois, a voragem. Os debates sobre as presidenciais. As zangas sobre o aborto. A quebra do tabu. O circo que arranca, com malabaristas, acrobatas, palhaços rico e pobres e muita música desafinada.

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