domingo, setembro 04, 2005
A vida a andar para trás
O PÚBLICO traz hoje história de Carlos Souza, um brasileiro que já foi artista plástico e pugilista, mas que entrou de costas na porta da fama. Literalmente. Um dia, um amigo sugeriu-lhe que passasse a andar de costas. E fez-se luz na cabeça de Souza, que passou a ver a vida a andar para trás. A ver a vida do avesso. Já andou 30 horas para trás em Munique, e agora ameaça subir a Serra da Estrela de costas e logo a seguir vai abalançar-se numa viagem às avessas entre Lisboa e o Vaticano.
Que magnifíco exemplo, o de Souza. Em vez de estender o olhar para o futuro, o brasileiro coloca a vista no passado. Os seus olhos não vêem o que está pela frente, mas alongam-se sobre o que já ficou pelo caminho. Souza não vê claramente visto, como fazia Camões, que até só tinha um olho. Quando o posterior do brasileiro adentra um lugar qualquer, o seu olhar ainda se perde no que já foi. Mesmo fazendo batota com retrovisores, Souza não recebe notícias frescas, não tem vistas largas, nem sequer pode ter saudades do futuro. Vive irremediavelmente num limbo, entre o que poderia ter sido e o que já foi. Como os portugueses, afinal.
Os portugueses, já se viu, andam na contramão da história. Até porque não têm olhos na nuca. Enquanto os seus parceiros europeus avançam de olhos postos no futuro, os portugueses avançam de costas viradas para o devir. Os outros olham os problemas de frente; os portugueses viram-lhes as costas e pousam o olhar em sítios e lugares que já foram transpostos, em sonhos que já se esfumaram. Se ao menos andássemos de lado, como os caranguejos, talvez pudessemos olhar de soslaio para o que aí vem. Mas prefirimos a nostálgica alienação pelo tempo que se escoou. Um dia destes tropeçamos num degrau qualquer e abrimos a cabeça. É caso para dizer que à nossa frente avança o passado.
Que magnifíco exemplo, o de Souza. Em vez de estender o olhar para o futuro, o brasileiro coloca a vista no passado. Os seus olhos não vêem o que está pela frente, mas alongam-se sobre o que já ficou pelo caminho. Souza não vê claramente visto, como fazia Camões, que até só tinha um olho. Quando o posterior do brasileiro adentra um lugar qualquer, o seu olhar ainda se perde no que já foi. Mesmo fazendo batota com retrovisores, Souza não recebe notícias frescas, não tem vistas largas, nem sequer pode ter saudades do futuro. Vive irremediavelmente num limbo, entre o que poderia ter sido e o que já foi. Como os portugueses, afinal.
Os portugueses, já se viu, andam na contramão da história. Até porque não têm olhos na nuca. Enquanto os seus parceiros europeus avançam de olhos postos no futuro, os portugueses avançam de costas viradas para o devir. Os outros olham os problemas de frente; os portugueses viram-lhes as costas e pousam o olhar em sítios e lugares que já foram transpostos, em sonhos que já se esfumaram. Se ao menos andássemos de lado, como os caranguejos, talvez pudessemos olhar de soslaio para o que aí vem. Mas prefirimos a nostálgica alienação pelo tempo que se escoou. Um dia destes tropeçamos num degrau qualquer e abrimos a cabeça. É caso para dizer que à nossa frente avança o passado.