segunda-feira, setembro 19, 2005
Mentirinhas geriátricas
Ando já há algum tempo a pensar em começar a mentir sobre a minha idade. Mas não pensem que vou descontar um par de anos à idade real, ou andar por aí vestido como um adolescente retardado, daqueles cujo desejo mais inconfessável é praxar caloiras. Não encaro sequer a possibilidade de fazer uma dieta ou de me colocar nas mãos de um qualquer cirurgião plástico capaz de rejuvenescer até o milenar Matusalém. Não, o meu plano é mais simples. O meu plano é acrescentar pelo menos dez anos à idade verdadeira registada no Bilhete de Identidade. É genial, não é?
Quando me voltarem a perguntar a idade, vou responder com franqueza, olhando o interlocutor nos olhos: 52 anos! Aposto que me vou fartar de coleccionar elogios. "52 anos?! Pois olhe, não parece! Está muito bem conservado", dirão as pessoas a quem pretendo enganar com consistência. Se começar a acrescentar dez anos à minha idade recupero pelo menos quatro anos em termos de aparência. Nada mau.
O plano é tão simples que o que verdadeiramente me espanta é só ter pensado nele agora. Passei a vida inteira a ser mal avaliado em questões de idade. Aos 20, quando ainda tinha genica para jogar como ponta-de-lança no estádio da Luz, já havia gente a dar-me 30 anos. Aos 30, talvez por causa de alguns precoces cabelos brancos, começaram a oferecer-me nos dias de aniversário e de Natal coisas como meias de lã, pijamas de flanela, escalfetas e cachimbos. A minha mãe, que parece uma rapariga de 30 anos, teve até o desplante de me dar recentemente um cobertor eléctrico. Na única vez que andei no metro do Porto, uma adolescente borbulhenta levantou-se para me oferecer um lugar sentado. Apeteceu-me esganá-la, claro.
A solução é, portanto, mentir para ganhar respeitabilidade e tentar sair desta crise de meia-idade que arrancou a todo o vapor logo que terminou a adolescência. Pegar de caras os cornos de Cronos. Ser uma pessoa mais velha com um aspecto jovem é muito diferente do que ser uma pessoa jovem que parece velha. Tem mais dignidade, acreditem. Ninguém gosta de ouvir dizer que está "muito acabado", mas toda a gente (pelo menos a partir de uma determinada altura da vida) adora ouvir dizer que está "bem conservado". Que está ali para as curvas. Que é romântico mas não trôpego, para citar José Cid, esse poeta da geriatria tão injustamente esquecido.
(E para terminar quero desejar muitas felicidades à minha mãe, que hoje faz anos. Gosto tanto dela que nem preciso de dizer).
Quando me voltarem a perguntar a idade, vou responder com franqueza, olhando o interlocutor nos olhos: 52 anos! Aposto que me vou fartar de coleccionar elogios. "52 anos?! Pois olhe, não parece! Está muito bem conservado", dirão as pessoas a quem pretendo enganar com consistência. Se começar a acrescentar dez anos à minha idade recupero pelo menos quatro anos em termos de aparência. Nada mau.
O plano é tão simples que o que verdadeiramente me espanta é só ter pensado nele agora. Passei a vida inteira a ser mal avaliado em questões de idade. Aos 20, quando ainda tinha genica para jogar como ponta-de-lança no estádio da Luz, já havia gente a dar-me 30 anos. Aos 30, talvez por causa de alguns precoces cabelos brancos, começaram a oferecer-me nos dias de aniversário e de Natal coisas como meias de lã, pijamas de flanela, escalfetas e cachimbos. A minha mãe, que parece uma rapariga de 30 anos, teve até o desplante de me dar recentemente um cobertor eléctrico. Na única vez que andei no metro do Porto, uma adolescente borbulhenta levantou-se para me oferecer um lugar sentado. Apeteceu-me esganá-la, claro.
A solução é, portanto, mentir para ganhar respeitabilidade e tentar sair desta crise de meia-idade que arrancou a todo o vapor logo que terminou a adolescência. Pegar de caras os cornos de Cronos. Ser uma pessoa mais velha com um aspecto jovem é muito diferente do que ser uma pessoa jovem que parece velha. Tem mais dignidade, acreditem. Ninguém gosta de ouvir dizer que está "muito acabado", mas toda a gente (pelo menos a partir de uma determinada altura da vida) adora ouvir dizer que está "bem conservado". Que está ali para as curvas. Que é romântico mas não trôpego, para citar José Cid, esse poeta da geriatria tão injustamente esquecido.
(E para terminar quero desejar muitas felicidades à minha mãe, que hoje faz anos. Gosto tanto dela que nem preciso de dizer).