quinta-feira, setembro 01, 2005
Lugares inabitáveis
Se é verdade, como escreveu Cesare Pavese, de que " nada é mais inabitável do que um lugar onde se foi feliz ”, então estamos todos metidos num grande sarilho. Porque não se adivinha nada de bom quando um país tem de recorrer a figuras do passado para ocupar o cargo de mais alto magistrado da Nação.
A progressiva perda de qualidade da classe política portuguesa tem-se acentuado muito nos últimos anos, mas agora ultrapassou todas as marcas. Eu sei que muita gente prefere esquecer, mas os últimos quatro chefes de Governo foram António Guterres, Durão Barroso, Pedro Santana Lopes e José Sócrates (este ainda em funções, para desespero de muita gente). Com falinhas mansas, o primeiro conduziu o país até ao pântano e depois foi-se embora, enfadado com o povo; Durão prometeu muito mas na primeira oportunidade trocou os problemas concretos do país pela distância e mordomias de Bruxelas, onde brilha como poliglota e pouco mais; a passagem de PSL por São Bento é uma espécie de aleijão político, um erro brutal que quase transformou um país inteiro numa pista de circo, com palhaços, acrobatas e sobretudo coristas seminuas; por fim, Sócrates confirma que só sabe que nada sabe, e assim, nada sabendo das dores e das angústias dos portugueses, sente-se à vontade para rasgar todos os compromissos que assinou com o povo que o elegeu.
Tendo em conta este cenário, é natural que os portugueses rebentem com saudades do futuro. E ao rebentarem de saudades do futuro no país do quase, olham paradoxalmente para o passado à procura de quem os guie. Cavaco Silva, que já foi o “homem do leme”, regressa para tentar terminar um percurso que ele acha que foi injustamente interrompido. É verdade que a História o absolverá, mas Cavaco não parece perceber isso na sua ânsia de se instalar em Belém. E Mário Soares, aos 81 anos, depois de já ter sido tudo, quer agora o quê? Quer desfazer o sonho do seu rival? Criar de direito uma dinastia que já existe de facto? Estará ele a pensar no que é melhor para o país ou no que é melhor para a sua família política?
A escolha de Cavaco Silva e de Mário Soares como candidatos a sucessores de Jorge Sampaio é um triste sintoma de um país amorfo. Um país que deixou de acreditar em dias felizes. Um país à deriva, a quem falta um timoneiro, um rumo, um sonho. Um país sem esperança. O voto em qualquer deles é um voto ditado pelo desespero. E o desespero, como se sabe, nunca deixa espaço para a felicidade.
A progressiva perda de qualidade da classe política portuguesa tem-se acentuado muito nos últimos anos, mas agora ultrapassou todas as marcas. Eu sei que muita gente prefere esquecer, mas os últimos quatro chefes de Governo foram António Guterres, Durão Barroso, Pedro Santana Lopes e José Sócrates (este ainda em funções, para desespero de muita gente). Com falinhas mansas, o primeiro conduziu o país até ao pântano e depois foi-se embora, enfadado com o povo; Durão prometeu muito mas na primeira oportunidade trocou os problemas concretos do país pela distância e mordomias de Bruxelas, onde brilha como poliglota e pouco mais; a passagem de PSL por São Bento é uma espécie de aleijão político, um erro brutal que quase transformou um país inteiro numa pista de circo, com palhaços, acrobatas e sobretudo coristas seminuas; por fim, Sócrates confirma que só sabe que nada sabe, e assim, nada sabendo das dores e das angústias dos portugueses, sente-se à vontade para rasgar todos os compromissos que assinou com o povo que o elegeu.
Tendo em conta este cenário, é natural que os portugueses rebentem com saudades do futuro. E ao rebentarem de saudades do futuro no país do quase, olham paradoxalmente para o passado à procura de quem os guie. Cavaco Silva, que já foi o “homem do leme”, regressa para tentar terminar um percurso que ele acha que foi injustamente interrompido. É verdade que a História o absolverá, mas Cavaco não parece perceber isso na sua ânsia de se instalar em Belém. E Mário Soares, aos 81 anos, depois de já ter sido tudo, quer agora o quê? Quer desfazer o sonho do seu rival? Criar de direito uma dinastia que já existe de facto? Estará ele a pensar no que é melhor para o país ou no que é melhor para a sua família política?
A escolha de Cavaco Silva e de Mário Soares como candidatos a sucessores de Jorge Sampaio é um triste sintoma de um país amorfo. Um país que deixou de acreditar em dias felizes. Um país à deriva, a quem falta um timoneiro, um rumo, um sonho. Um país sem esperança. O voto em qualquer deles é um voto ditado pelo desespero. E o desespero, como se sabe, nunca deixa espaço para a felicidade.