quinta-feira, agosto 18, 2005

 

A dignidade do grisalho

Deixo-vos com este texto, que subscrevo na íntegra, enviado por um daqueles amigos que nos ficam contra o devir tempo. Que nos alimentam. A detalhes, a silêncios, a palavras. Como estas.
Memórias vivas. Vivências que um dia tiveram um lugar comum e que, agora, têm um denominador comum: o pulsar da vida no peito. Cumplicidades. Um beijo Zé e outro à Cristina.

«NÃO COSTUMO SER IMPLICANTE, MUITO menos com os homens, por quem tenho uma condescendência até suspeita. Enquanto as mulheres reclamam que não existe homem no mercado (no mercado, que feio!), eu acho que tem homem bacana tropeçando aos nossos pés, elas é que não se dão conta porque só prestam atenção nos supostos defeitos do sujeito: conta bancária desfalcada, carro usadésimo, roupas fora de moda, falta de bíceps e tríceps, tudo isso que hoje em dia conta mais do que caráter, humor, inteligência, essas coisas supérfluas. Assim fica difícil mesmo encontrar o príncipe. Eu, solteira fosse, não ficaria pegando no pé dos meninos por coisa pouca. No quesito aparência, por exemplo, acredito que dá para encarar baixinho, gordinho, careca, barbudo, franzino. Só uma espécie teria dificuldade de passar pelo meu crivo: homem de cabelo pintado. As mulheres, coitadas, assim que afloram os primeiros cabelos brancos, correm até os salões para dar um sumiço neles, e a partir daí viram reféns desta operação extermínio. No que fazem muito bem. Admiro o desprendimento de quem assume seus brancos numa boa, mas uma coisa é incontestável: o grisalho nos envelhece e nos dá um ar relaxado. Fica bonito apenas em alguns casos muito raros — os da Gloria Menezes, por exemplo, acho uma graça. Já os homens nasceram com o dom de ficarem mais atraentes à medida que os cabelos vão ficando brancos. É uma vantagem inquestionável. Eles ganham em credibilidade, charme, beleza, elegância. Giorgio Armani, por exemplo, de jeans, camiseta e grisalhíssimo. Uma obra-prima. Jovem para sempre. Homem que recorre à tintura perde um naquinho da sua dignidade. A idéia era ficar mais moço — eles também têm direito à vaidade, ok — mas alguém precisa avisá-los de que, em vez de mais moços, às vezes ficam patéticos. Podem ser milionários, artistas, banqueiros, magnatas — ficam todos com cara de falidos. Estou sendo preconceituosa? Monstruosa? Ridícula? Sim, estou sendo preconceituosa, monstruosa, ridícula, azar o meu.
É minha opinião».
Martha Medeiros

|



<< Home

This page is powered by Blogger. Isn't yours?