quinta-feira, agosto 11, 2005

 

Coisas naif...

....tão cristalinamente simples que até confrangem.


Tens com certeza um mester, um ofício, uma profissão, como se diz agora, Tenho, tive, terei se for preciso, mas quero encontrar a ilha desconhecida, quero saber quem sou quando nela estiver. Não o sabes. Se não sais de ti, não chegas a saber quem és. O filósofo do rei, quando não tinha que fazer, ia sentar-se ao pé de mim, a ver-me passajar as peúgas dos pajens, e às vezes dava-lhe para filosofar, dizia que todo o homem é uma ilha, eu, como aquilo não era comigo, visto que sou mulher, não lhe dava importância, que tu achas. Que é necessário sair da ilha para ver a ilha, que não nos vemos se não nos saímos de nós. Se não saímos de nós próprios, queres tu dizer. Não, não é a mesma coisa.

excerto de "O conto da ilha desconhecida", José Saramago.

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