sábado, julho 09, 2005

 
As salas do hotel onde estou em salvador da Bahia têm nomes de escritores lusófonos. Neste momento estou a escrever-vos na sala Pepetela, mas podia ter escolhido Fernando Pessoa, Zélia Gattai, Jorge Amado, MIa Couto, Machado de Assis e por aí fora. É um toque simpático num hotel que nos últimos dias tem enfrentado com heroísmo uma tempestade tropical das valentes. Daquelas que arrancam coqueiros, atiram água do mar e pedras para o meio da estrada e encharcam tudo. Tudo. As pessoas que correm apressadas, os cortiços favelados na base dos morros, as ruas e avenidas, o estádio do Vitória, a estátua do poetinha, de Vinicius, em Itapoã, onde ele permanece sozinho, a olhar o mar, sem que uma alma caridosa lhe sirva um uisquinho.
A tempestade pregou-me um dos maiores sustos da minha vida quando obrigou o avião a abortar por três vezes a aterragem no aeroporto. Primeiro era a chuva que não deixava ver nada, depois foi o vento que fez balançar o avião como uma folha de papel e por fim os nervos do piloto quase cederam. Quando, finalmente, as rodas tocaram o asfalto, rebentou uma salva de palmas no interior do Boeing. Havia gente a chorar, havia gente a benzer-se. E eu próprio, veterano de aterragens emocionantes (em Pristina e Sarajevo, por exemplo, ou no velho aeroporto de Hong Kong) dei por mim a respirar de alívio. Nos longos minutos de tensão dei por mim a escrever na minha cabeça a notícia do eventual acidente, com um lead acutilante e um fecho de fazer chorar as pedras da calçada. Mas tudo correu bem.
Tenho pena das pessoas que escolheram Salvador para passar as férias de Verão. Principalmente as que o fizeram por causa da praia. O vento e chuva destroem qualquer chance de sossego e tornam qualquer saída uma aventura para contar aos netos. O Pelourinho parecia abandonado ontem à noite e julgo que até vi abrigada numa esquina a alma encharcada de Quincas Berro e Água.
Logo que puder regresso para dar mais novidades. Há gente sobre a qual quero falar-vos. Gente como o seu Marivaldo, a Gilvanilda, a Dadá e outros baianos. Mas isso fica para mais tarde. Agora é hora de ir para a rua enfrentar a tempestade.

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