terça-feira, junho 28, 2005

 

Fulano de tal está "referenciado"

Já se sabe que os jornais desportivos têm uma linguagem própria. Blindada, como agora se diz a propósito de tudo e de nada. Quem não dominar os rudimentos do futebolês arrisca-se a não entender patavina do que lá vem escrito. E se o autor dos textos for o Joaquim Rita, o autor do conceito da "profundidade curta", então nem vale a pena tentar. O homem escreve com os pés, pensa com o intestino grosso e fala como o Manuel Sérgio nos tempos em que liderava o partido dos reformados (PSN, julgo eu).
O conceito mais bizarro deste defeso é o do jogador "referenciado". Encontram-se frases do género: "Riquelme referenciado pelo FC Porto"; "O Sporting não vai contratar Ronaldinho Gaúcho mas tem o jogador referenciado"; "Referenciado pelo Benfica, Zenden assinou pelo Liverpool".
Ou seja, "referenciado" é uma maneira de dizer que os clubes portugueses não têm dinheiro para contratar sequer o ponta-de-lança do Tchernobill, aquele que tem membranas entre os dedos dos pés, uma segunda cabeça no ombro direito e que brilha intensamento no escuro por causa de ter sido exposto a radiações atómicas. Referenciam mas não têm dinheiro para o passe (já dinheiro para casas de passe é coisa que não falta, a julgar pelo que se sabe do processo "apito Dourado"). Os clubes portugueses já não cobiçam - referenciam. Têm desejos mas não têm meios. São como os trolhas em cima dos andaimes. Quando lhes passa à frente uma mulher bonita limitam-se a despi-las com os olhos e alguns mais ousados prometem dar-lhes duas sem tirar fora. E depois comentam para o colega: "Tenho aquela gaja referenciada".
Pois eu também quero aderir à moda. E aviso já que tenho a Eva Longoria "referenciada". A Eva Longoria, a Adriana Lima, a Maria Sharapova, a Jeniffer Love-Hewitt e todas as contorcionistas do Circo Nacional da China. "Deixem-me referenciar", como dizia o outro. Afinal, referenciar não custa.

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