sexta-feira, maio 20, 2005

 

Verão Quente

Numa tarde qualquer deste Verão anunciado, fugiram da poeira da mundaneidade. O quotidiano tornava impossível o grito. Ele encontrou um quarto perdido na cidade, ela anuiu.Uma parede branca. Um outro mundo alheio a relógios. Um raio de luz violando as persianas.Tudo amarelado.Dourado. Nua encostou-se à parede, pele trémula contra a cal.Enquanto ele cantava Maria Teresa Horta, ela colocou-o na mão sedenta. Sentiram o Verão furar o peso das núvens.


Eis o centro do corpo
o nosso centro
onde os dedos escorregam devagar
e logo tornam onde nesse
centro
os dedos esfregam - correm
e voltam sem cessar

e então são os meus
já os teus dedos
e são meus dedos
já a tua boca
que vai sorvendo os lábios
dessa boca
que manipulo - conduzo
pensando em tua boca

Ardencia funda
planta em movimento
que trepa e fende fundidas
já no tempo
calando o grito nos pulmões da tarde
E todo o corpo
é esse movimento
que trepa e fende fundidas
já no tempo
calando o grito nos pulmões da tarde
E todo o corpo
é esse movimento
em torno
em volta
no centro desses lábios
que a febre toma
engrossa
e vai cedendo a pouco e pouco
nos dedos e na palma

Masturbação, Maria Teresa Horta

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