quarta-feira, abril 20, 2005

 

«Não se sobem montanhas com cordas partidas».
Foi assim que pontuaste, definitivamente, o nosso diálogo.
Três anos passados, talvez quatro - não sei ao certo - gostava de te recordar que não me esqueci. Nem do teu olhar.
Nunca ninguém pousou em mim tanta ternura.

Naquele tempo, em que os homens não falavam, eu era um equilibrista cego à procura de dizer. De sentir qualquer coisa.
Menos aquela inerte solidão acompanhada.
Menos o silêncio estéril, nascido entre nós.
Era o quebra-luz desnecessário, quando a noite teimava escura em nunca mais clarear. E o cume, eu sabia, era uma estrela vulgar.
Não lhe via as pontas prateadas. Mas escalava.
Naquele tempo em que as recordações queimavam como magma
pousadas na pele, nenhum verbo podia ser conjugado contra o teu peito.
E não chamaste por mim. Nem eu reconheceria a tua voz.
Nenhum pássaro sairia vivo das nossas feridas.
E nem o teu sorrio - como era meu o teu sorriso - seria o cativeiro que me esperava. Mas escalava.
Naquele tempo, quando todos os receios do mundo conspiraram
não soubemos ser quebra-mar. Necessariamente quebra-mar, quando
o mar teimava em levar-nos o coração para parte incerta.

«Não se sobem montanhas com cordas partidas».
E eu acreditei. Não sabia mais nenhuma prece.
Também já não tinha credo.
Nem sabia de onde partir, apenas com umas cordas partidas na mão.
Foi do teu olhar. Talvez. E percebi porque estava tão cansada.



 Posted by Hello

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