segunda-feira, março 21, 2005
A primavera & a poesia: hoje
Saudámos hoje
um dia de primavera
e cantámos
a simples glória
de estarmos vivos (...)
Cristina Nobre, in Dia após dia
(...)
Inquietação: não tocar senão
com as pálpebras
os seus lábios maduros.
Relembro as paixões mais antigas e versos
perdidos no rio: não uma a uma
com as horas, as folhas do limoeiro.
Apenas o que da sua fome ficou por habitar
ou dizer. (...)
Francisco José Viegas in Metade da Vida
Quem me leva a voz
para debaixo das ramadas
esperando que achuva passe?
Aprecio vê-la escorrer
sobre os amantes.
Quem anda à chuva
não lhe pesa o coração.
(...)
Vasco Ferreira Campos in A Voz à Chuva
São horas de voltar. Tu já não vens, e a espera
gastou a luz de mais um dia. Agora, quem passar
trará um corpo incerto dentro do nevoeiro,
mas terá outro nome e outro perfume. Eu volto
à casa onde contigo se demorou o verão e arrumo
os livros, escondo as cartas, viro os retratos
para a mesa. Sei que o tempo se magoou de nós,
sei que não voltas e ouço dizer que as aves
partem sempre assim, subitamente. Outras virão
em março, apago as luzes do quarto, nunca as mesmas.
Maria do Rosário Pedreira in A Casa e o Cheiro dos Livros
um dia de primavera
e cantámos
a simples glória
de estarmos vivos (...)
Cristina Nobre, in Dia após dia
(...)
Inquietação: não tocar senão
com as pálpebras
os seus lábios maduros.
Relembro as paixões mais antigas e versos
perdidos no rio: não uma a uma
com as horas, as folhas do limoeiro.
Apenas o que da sua fome ficou por habitar
ou dizer. (...)
Francisco José Viegas in Metade da Vida
Quem me leva a voz
para debaixo das ramadas
esperando que achuva passe?
Aprecio vê-la escorrer
sobre os amantes.
Quem anda à chuva
não lhe pesa o coração.
(...)
Vasco Ferreira Campos in A Voz à Chuva
São horas de voltar. Tu já não vens, e a espera
gastou a luz de mais um dia. Agora, quem passar
trará um corpo incerto dentro do nevoeiro,
mas terá outro nome e outro perfume. Eu volto
à casa onde contigo se demorou o verão e arrumo
os livros, escondo as cartas, viro os retratos
para a mesa. Sei que o tempo se magoou de nós,
sei que não voltas e ouço dizer que as aves
partem sempre assim, subitamente. Outras virão
em março, apago as luzes do quarto, nunca as mesmas.
Maria do Rosário Pedreira in A Casa e o Cheiro dos Livros