terça-feira, março 15, 2005

 

Declaração de amor

Passaram bem mais de 30 anos sobre aquele dia 15 de Março em que a minha mãe ofereceu ao meu pai, pelo seu aniversário, uma camisa que ela própria desenhou, cortou e costurou. Era uma camisa azul-celeste de meia manga, com quadrados grandes, um rebordo de malha no braço e as iniciais do meu pai bordadas no bolso. Ele adorou-a e usou-a anos a fio, até ela se desintegrar, e eu cobicei-a desde o primeiro segundo, ao ponto de a minha mão ter sido obrigada a fazer outra para mim. Tenho mesmo uma fotografia em que apareço ao lado do meu pai no jardim da casa antiga, vestidos com camisas iguais, ele de sorriso aberto e mão pousada no meu ombro,e eu de patins, segurando um taco de hóquei.
Lembrei-me desta história porque preciso de comprar um presente para o meu pai, que hoje celebra mais um aniversário. Eu gostava de lhe dar uma camisa igual, uma camisa que nos devolvesse ao tempo da felicidade em estado puro. Mas isso é impossível. Por isso vou dar-lhe uma coisa qualquer comprada numa loja qualquer, uma coisa que não foi desenhada, cortada e costurada amorosamente pela minha mãe. Uma coisa que eu dificilmente cobiçarei. E para além disso vou dar-lhe o meu amor. E o meu respeito. Reparo agora que esta é, de certeza, a mais difícil declaração de amor que alguma vez fiz. E pública, ainda por cima. Ele vai estranhar. Mas como ele não lê blogues há sempre a possibilidade de não vir a reparar nela.

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