terça-feira, março 29, 2005
Certezas, dúvidas e equações
Certezas, dúvidas e equações
Não estive longe. Mas distante, o suficiente, do meu quotidiano. E de rotinas mais ou menos recentes, mais ou menos conciliadoras. O blog é uma destas rotinas recentes e conciliadoras que, inesperadamente, nos fazem falta.
Parti em viagem, breve, depois de um funeral. O pai de uma amiga morreu.
E agora, chegada aqui, a esta casa antiga, com chuva nas janelas penso nas pessoas que cruzaram o meu caminho e naquelas que ainda chegarão, antes que eu parta também. Não sou pessimista. Prezo tanto a vida, que até a agradeço em plenas e demoradas filas de trânsito e no decorrer de tantos outros desesperos humanos. Dos mais banais aos mais filosóficos. Mas, novamente, o confronto com a morte, fez-me ficar quieta naquela frase que se ouve nos funerais: «é a única certeza que temos na vida…mas…» Mas não estamos preparados para digerir tamanha certeza, muito menos em rituais de despedida atenuados ou não pela fé.
Para além de que, esta “única certeza” é sempre sinónimo de subtracção.
Para o bem ou para o mal, tiram-nos alguma coisa, certa pessoa, determinados momentos vivos. Privam-nos do que, às vezes, nem sequer usufruímos.
Mas privam-nos. Desassossegam-nos. Entristecem-nos.
E depois, a morte, é uma certeza que induzimos tarde. Ou rejeitamos, ou adiamos. A certeza da morte é o tal cromo que ninguém tem repetido.
Tinha outras, tantas outras certezas, antes desta, que equacionava de forma simples. Certezas urgentes, impiedosas, ímpias.
Certezas serenas, sagradas, basilares.
Muito antes de deslacrar a certeza da morte, tinha certezas eternas guardadas. Minhas. E desse baú enorme de certezas, resta-me uma absoluta e outra relativa. Ri o. De mim. E do fundo do baú, tão amplo, tão grande para tão poucas certezas e tão ínfimo para tantas dúvidas.
Há certezas que nos adicionam, que nos multiplicam, que nos dividem.
Ah! como nos dividem, como nos multiplicam, como nos adicionam…
à vida, numa osmose quase perfeita. Tanto que nos pode ser adicionado.
Amor, coragem, ternura, alegria, amizade, sorriso, calor, sinceridade, vontade, sonho, vitória, prazer, cumplicidade, emoção… Certezas que se multiplicam e fazem do coração um lugar demasiado pequeno. Certezas que nos dividem, nos sobressaltam e nos fazem querer, ao mesmo tempo, uma ilha e um continente.
Outras certezas, porém, não só subtraem pessoas, como subtraem sentimentos. Tanto que nos tiram. Fazendo com que a nossa equação desequilibre e o resultado pareça, às vezes, inalcançável, indecifrável, insuportável.
Outras vezes o resultado dessa equação de certezas, de dúvidas, de incógnitas, é tão, mas tão evidente que fazemos bem a conta de cabeça, ou de coração, conforme o caso. Tanto o que pode acontecer numa equação. Tanto o que lá cabe. Tantos sinais, tantas variáveis. Equações possíveis, impossíveis ou indeterminadas.
Certezas, dúvidas e equações.
Eu fazia uma muito simples, nos cadernos, nos muros ou no tampo das mesas da sala de aula da minha escola
maria + paulo = amor ou, quando não tinha namorado, maria + ? = amor
E era assim que, naquele tempo, imenso e demorado, eu fazia contas à vida! Muito poucas variáveis, às vezes uma incógnita, sempre temporária, uma solução certa e absoluta.
Era no tempo das equações simples, de resultado inquestionável e, certamente,feliz.
Não estive longe. Mas distante, o suficiente, do meu quotidiano. E de rotinas mais ou menos recentes, mais ou menos conciliadoras. O blog é uma destas rotinas recentes e conciliadoras que, inesperadamente, nos fazem falta.
Parti em viagem, breve, depois de um funeral. O pai de uma amiga morreu.
E agora, chegada aqui, a esta casa antiga, com chuva nas janelas penso nas pessoas que cruzaram o meu caminho e naquelas que ainda chegarão, antes que eu parta também. Não sou pessimista. Prezo tanto a vida, que até a agradeço em plenas e demoradas filas de trânsito e no decorrer de tantos outros desesperos humanos. Dos mais banais aos mais filosóficos. Mas, novamente, o confronto com a morte, fez-me ficar quieta naquela frase que se ouve nos funerais: «é a única certeza que temos na vida…mas…» Mas não estamos preparados para digerir tamanha certeza, muito menos em rituais de despedida atenuados ou não pela fé.
Para além de que, esta “única certeza” é sempre sinónimo de subtracção.
Para o bem ou para o mal, tiram-nos alguma coisa, certa pessoa, determinados momentos vivos. Privam-nos do que, às vezes, nem sequer usufruímos.
Mas privam-nos. Desassossegam-nos. Entristecem-nos.
E depois, a morte, é uma certeza que induzimos tarde. Ou rejeitamos, ou adiamos. A certeza da morte é o tal cromo que ninguém tem repetido.
Tinha outras, tantas outras certezas, antes desta, que equacionava de forma simples. Certezas urgentes, impiedosas, ímpias.
Certezas serenas, sagradas, basilares.
Muito antes de deslacrar a certeza da morte, tinha certezas eternas guardadas. Minhas. E desse baú enorme de certezas, resta-me uma absoluta e outra relativa. Ri o. De mim. E do fundo do baú, tão amplo, tão grande para tão poucas certezas e tão ínfimo para tantas dúvidas.
Há certezas que nos adicionam, que nos multiplicam, que nos dividem.
Ah! como nos dividem, como nos multiplicam, como nos adicionam…
à vida, numa osmose quase perfeita. Tanto que nos pode ser adicionado.
Amor, coragem, ternura, alegria, amizade, sorriso, calor, sinceridade, vontade, sonho, vitória, prazer, cumplicidade, emoção… Certezas que se multiplicam e fazem do coração um lugar demasiado pequeno. Certezas que nos dividem, nos sobressaltam e nos fazem querer, ao mesmo tempo, uma ilha e um continente.
Outras certezas, porém, não só subtraem pessoas, como subtraem sentimentos. Tanto que nos tiram. Fazendo com que a nossa equação desequilibre e o resultado pareça, às vezes, inalcançável, indecifrável, insuportável.
Outras vezes o resultado dessa equação de certezas, de dúvidas, de incógnitas, é tão, mas tão evidente que fazemos bem a conta de cabeça, ou de coração, conforme o caso. Tanto o que pode acontecer numa equação. Tanto o que lá cabe. Tantos sinais, tantas variáveis. Equações possíveis, impossíveis ou indeterminadas.
Certezas, dúvidas e equações.
Eu fazia uma muito simples, nos cadernos, nos muros ou no tampo das mesas da sala de aula da minha escola
maria + paulo = amor ou, quando não tinha namorado, maria + ? = amor
E era assim que, naquele tempo, imenso e demorado, eu fazia contas à vida! Muito poucas variáveis, às vezes uma incógnita, sempre temporária, uma solução certa e absoluta.
Era no tempo das equações simples, de resultado inquestionável e, certamente,feliz.