quarta-feira, janeiro 19, 2005
Meu querido presidente
Vocês devem conhecer o Lula. Luis Inácio Lula da Silva. O Lula operário, agitador. O Lula das confusões e das revoluções, que mal sabia usar o vernáculo, mas que se fazia compreender, mesmo sendo considerado um incompreendido por críticos sem conta. O Lula vermelho, esquerdista. Candidato eterno, eterna oposição. O Lula passando por uma metamorfose. Opa! Isso mesmo. Renovado, reciclado pelas estratégias de marketing. O Lula? É. O Lulinha paz e amor que venceu as eleições e conquistou com afetado carisma as multidões, atingindo as massas menos favorecidas até as mentes intelectualizadas. O Lula, enfim, presidente, engravatado e enfiado num “Armani” impecável. O Lula? Sim. O Lula das relações exteriores, ovacionado até na África. Elogiado pelo FMI, quem diria?! O Lula dos resultados mais expressivos do quadro econômico do país nos últimos tempos! Um Lula que surpreende e que, na opinião do Gilberto Dimenstein, consegue mais aplausos pelo que não fez do que pelo que fez. Principalmente para quem estava mais preocupado com os riscos da gestão PT do que com as promessas de campanha. Um Lula ascendente social. Vejam só a evolução do homem! Um Lula, por fim contraditório, que está aprendendo a investir bem nos “sonhos presidenciais”. Só como exemplo: Esta semana o JN da rede Globo está exibindo uma série de reportagens sobre as condições, ou melhor, sobre a falta de condições das estradas e rodovias brasileiras. Uma delas é a BR163, aberta na década de 70 e até agora não concluída. A rodovia deveria servir para ligar à Amazônia ao Brasil civilizado, encurtando distâncias entre duas importantes regiões do país e nada menos do que 11 estados brasileiros. Serviria também para o escoamento da produção agrícola nesses estados se tivesse em condições de tráfego. Dos mais de 1000 km da BR, menos de 100 são asfaltados. Viajar por ela é perigoso e suicida. Eu mesma já fiz algumas matérias sobre “malucos” que decidem se arriscar. Sim, porque vira notícia mesmo. As demais rodovias já asfaltadas oferecem uma aventura e tanto aos viajantes que podem optar por pedágios exorbitantes ou por “buracos assassinos”. E aí, sobre os investimentos federais em 2004 para amenizar esta situação grotesca, a jornalista Marta Salomon publica na “Folha” que foram gastos pouco mais do que o meu querido presidente usou para comprar o seu mais novo super-Airbus, feito sob medida, bem ao gosto do freguês. Saldo: R$ 515 milhões para os buracos das rodovias contra R$ 315 milhões para o mais novo meio de transporte do tio Lula. Como diria a economista Eliane Cantanhêde "quem pode pode. Quem não pode se sacode nas estradas brasileiras". Não é irônico? Justamente aquilo que ele tanto denunciava como “absurdo”! Nada contra a ascensão social, nem contra o presidente falar certinho e andar todo engravatado. O “tudo contra" é pra essa atitude de pregar uma ideologia e em seguida negá-la, e ainda me vir com histórias de aumentar a carga tributária pra eu pagar a conta. Pronto. Tou me sentindo melhor agora...