quarta-feira, janeiro 26, 2005

 

Em defesa da alienação

Sim, eu sei. Tenho andado calado. Tenho escrito pouco. Tenho evitado polémicas. Quase deixei de escrever sobre política. Não comentei sequer o triunfo do Beira-Mar na Luz. Estou a ficar cada vez mais chato. Estou sem chama. Estou com frio. Com vontade de berrar com alguém. Estou parvo. Mas...
Mas a verdade é que de repente apeteceu-me fazer outras coisas do que estar aqui a postar dia após dia. Ouvir velhos discos de vinil, por exemplo. Fumar os últimos Punch de olhos fixos na lareira. Acabar de ler o Austerlitz. Rir-me sozinho com as aventuras de Wilt. Rever o George, a Elaine, o Kramer e o Jerry. Descascar mangas verdes. Acordar cedo.
Quando surge mais um político na televisão a prometer coisas, mudo de canal. Gente de dedo espetado? Fora. Debates? Não. Fórum da TSF, Bancada Central, Bola Branca? Estou fora. Polémicas intermináveis sobre os têxteis chineses? Não contem comigo. Portas e Louçã a discutirem sobre quem tem mais autoridade para disparatar sobre o aborto? Give me a break! PSL? Arggghhhh! Sócrates? Arggghhhh again. Portas? Não me façam rir. Louçã? Não matei ninguém para receber semelhante castigo. Manuel Monteiro? Não posso rir que fico feio. Senadores, empresários gordos, wonder boys, raparigas siliconadas, futebolistas, futeboleiros e dirigentes, gente de bigode, polícias municipais, bombas inteligentes, bombas menos inteligentes, bombas mesmo estúpidas, estúpidos, gente estúpida - tudo isso me chateia. Estou que já nem me posso ver. Anseio pela alienação. Quero ser um alienado. Pelo menos nos próximos cinco minutos. Depois conversamos. Agora deixem-me ir num instantinho ouvir José Cid, porque de repente lembrei-me dele.

Antes o Cid do que marinar em hipocrisia. Percebem o que quero dizer?

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