quinta-feira, janeiro 27, 2005

 

AUSCHWITZ

Foi há 60 anos. No dia 27 de Janeiro de 1945, às 5 da manhã, o Exército Vermelho soviético entrou no campo da morte nazi de Auschwitz, lugar do extermínio de mais um milhão de pessoas. Um milhão de seres humanos. Um milhão de almas. O mal em estado puro escondia-se no campo da morte, que tinha na entrada principal a mais cínica das inscrições: Arbeit Macht Frei. "O trabalho liberta". Os sobreviventes da Shoah, cerca de dois mil, regressam hoje ao campo da morte para a cerimónia que celebra a libertação de Auschwitz. Regressam para que o mundo não esqueça. Porque há feridas que não estancam.

Para um sobrevivente dos campos, o passado é mais importante que o
presente?
Não.
Para se sobreviver aos campos, é preciso ter esquecido? De modo
nenhum.

Para que a reconciliação seja possível, é indispensável esquecer?
Não estou a pensar em nenhuma reconciliação. É impossível. Também não existe esquecimento possível.
Para um deportado, ou para um internado num campo, é possível perdoar, ou encarar a questão do perdão? Não. Completamente excluído. Não há perdão possível para o extermínio de perto de seis milhões de inocentes e de 17 membros da minha família.
A possibilidade de perdoar e a possibilidade da reconciliação são a mesma coisa? Com pequenas diferenças, sim. Mas o perdão está excluído.
Já tudo foi dito sobre os campos? Não. Passaram-se lá coisas tão incríveis que ninguém acreditaria. Por isso não se fala delas.
Transcrição exacta, nas palavras e no grafismo, das respostas que o cartoonista Serge Smulevic, sobrevivente de Auschwitz, enviou à PÚBLICA via e-mail. O depoimento foi recolhido pela jornalista Clara Barata.

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