quarta-feira, dezembro 22, 2004

 

Um gato que fede

Um leitor mais atento exige-me por e-mail que cumpra a promessa feita aqui. Que não seja por isso:
Terry Gilliam, o homem que assinava as fantásticas animações do Circo Voador dos Monty Python, explicou uma vez que o segredo do sucesso do grupo britânico era a ausência da “punchline”, a frase de efeito que normalmente remata as anedotas. Explicou ele, durante a cerimónia de homenagem aos Monty Python no Festival de Comédia de Aspen, em 1998, (que John Cleese e companhia transformaram num delicioso pandemónio), que o grupo só começou a ter sucesso quando deixou de encenar piadas e passou a apostar no inesperado, no absurdo, no surreal. Em Aspen, perante uma plateia de boquiabertos norte-americanos, os Monty deram um bom exemplo do seu humor absurdo: insultaram a plateia, espalharam por todo o lado as cinzas de Graham Chapman (que morreu de cancro em 1989) e cantaram Always Look at The Bright Side of Life com um acompanhamento do outro mundo.
Num panorama televisivo português dominado pelo humor alarve da graçola encenada e da piada escatológica, a equipa do Gato Fedorento distingue-se pelo humor inteligente, que surpreende pela facilidade com que usa os temas do quotidiano para nos fazer rir. Não há ali piadas encenadas, nem “punchline”, nem recurso ao palavrão para provocar o riso. Os Gato Fedorento não são ainda os Monty Python, mas estão no caminho certo. Só precisam de não se deslumbrar, como dizem os comentadores desportivos.
Apesar de separados por 30 anos, entre o grupo britânico e o grupo português há mais semelhanças do que diferenças: são ambos jovens, com poucos meios mas muita imaginação e têm por trás uma televisão que lhe dá total liberdade criativa (a BBC, no caso dos Python). É caso para dizer: eu vi o futuro do humor português e o seu focinho era o de um gato. Um gato que fede.


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