terça-feira, dezembro 28, 2004

 

A menor maioria

José Sócrates anda por aí a pedir a maioria absoluta e isso assusta muita gente. Assusta-me a mim, confesso. É que sempre acreditei que as maiorias absolutas são perversas. E isto não é um ditado popular nem uma frase "pronta a usar" de que tanto gostam os "analistas" políticos. É antes uma confissão - um lamento de falta de poder, provavelmente. A maioria, sempre singular (nunca há duas maiorias), é o "Ninguém" do Frei Luís de Sousa.
Em contraste, as minorias são tradicionalmente plurais, dispersas e quase sempre sem voto na matéria. São pouco práticas mas genuínas. Estar em minoria significa habitualmente lutar para não ficar à porta de um mundo em que o direito de admissão é reservado a maiores de 18. Na América, por exemplo, manda agora uma "moral majority" que impõe o silêncio e a mentira como um das belas artes; em Portugal houve em tempos uma "maioria silenciosa" que falava pelos cotovelos. O que une as minorias é quase sempre as suas diferenças e o que separa as maiorias é quase sempre as suas semelhanças. As maiorias absolutas desprezam a oposição e temem a dúvida quando não têm certezas.
Sócrates quer a maioria absoluta? Pois vai ter que a merecer.

(Vamos lá a ver se ele ainda se lembra)


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