As imagens do dia gravadas pelo RB são muito elucidativas. Sobretudo numa época de reconhecido minimalismo ético-ideal, de fragilidade das razões comunicativas, de crise de valores tão necessários à polarização da sociabilidade integrativa mas diferenciada, quando o equilíbrio entre o exercício da liberdade interior, assumida, crítica, e as suas condições externas é perturbado pela irrupção de corporativismos, de interesses de parte, de egoísmo, de violência, de puras concepções instrumentais da identidade colectiva, do bem comum ou do interesse geral.
Por isso, a linha do horizonte ideal deve ser aquela onde se podem e devem desenhar os contornos de uma sociedade robusta e, portanto, de uma democracia plena, não meramente formal ou insidiosamente autoritária, de uma cidadania como crivo, que separa o útil do fútil, a verdade do relativismo, o belo do feio, o expressivo do fosco, o límpido do turvo, a transparência da obscuridade.
Em síntese, contribuir para o projecto de uma sociedade de homens como sujeitos autónomos, criadores e solidários, em todos os planos da vida. Por outras palavras: uma sociedade que nos leve a empreender certas acções sem nos importarmos de saber se, quando ou como elas serão coroadas de êxito, sem nenhuma garantia de poder um dia tirar delas algum proveito.
E depois ? Perguntam os medrosos do que está para vir. ..Depois, o mundo continua a dar voltas, os homens continuam a viver e a morrer, os deuses continuam a ser impassíveis e a árvore continua a florir e a frutificar.
Para que temer, pois, o futuro ? Porque não nos lançamos a ele com o mesmo afã devorador com que sondamos o passado ? Se nós temos, ou parecemos ter no celticismo anelante da nossa alma o amor do desconhecido e até do inalcançável, porque receamos das novidades ? Quem nos desvirtuou o espírito, que já nem parecemos ser o que fomos um dia ? Não temos novas terras a descobrir; porque não nos aventuramos a descobrir novas regiões da inteligência e da sensibilidade.
Apenas a visão larga e tolerante, a generosidade e a capacidade de sermos fiéis a causas, projectos e pessoas nos permite ir além da periferia.
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