domingo, novembro 28, 2004
Santana e a "tralha barrosista"
O comunicado em que Henrique Chaves anuncia a demissão é extraordinário e vale a pena lê-lo com muita atenção. Alguns aspectos já foram analisados em posts anteriores, mas há coisa que merecem reflexão. Como estas, por exemplo:
1. Na prática, Chaves confirma as pressões de Jorge Sampaio sobre Santana, ao dizer que "a remodelação d[de quarta-feira] resultaria de uma pressão de véspera, alegadamente por quem, para tanto, tem poder institucional". Ou seja, Chaves deixa Santana e o PR amarrados um ao outro, como dois irmãos siameses. Mais uma vez, Sampaio surge aos olhos da opinião pública como "grande amigo" de Santana. Pelos vistos, o seu único amigo, agora que até os santanistas abandonam o barco.
2. Outra passagem interessante é quando Chaves revela ter-lhe sido comunicada (supõe-se que pelo PM) "a intenção de se proceder à demissão de um outro ministro". Quem é esse outro ministro? Enganam-se os que pensam ser Rui Gomes da Silva, o "fiel amigo" do PM. Trata-se, isso sim, como a TVI muito bem revelou, de José Luís Arnaut, cujas surtidas na companhia de Santana pela noite lisboeta não lhe chegaram para conquistar a confiança deste PM. Arnaut e Morais Sarmento, são encarados desde a primeira hora como "tralha barrosista" (para usar uma expressão roubada a Vicente Jorge Silva). Sarmento tem-se aguentado e até subiu na estrutura do Governo; Arnaut é o que se sabe: só ficou por imposição de Barroso, levou um pontapé para canto (disfarçado por essa ideia peregrina de que estará à frente um super-ministério), entrou em choque com outros ministros e agora cometeu o criem de queixar-se de Miguel Cadilhe numa carta que chegou aos jornais antes de chegar a São Bento. Arnaurt não saiu agora porque Santana, na sua inconstância, quis adiar à última hora a colisão com o que resta do barrosismo. Se tiver um acesso de dignidade e sair pelo seu próprio pé, causará uma crise que pode ser o fim da coligação. E o princípio de um novo tempo para o país.