Amor e Ócio (I)

Não tenho nenhuma simpatia especial pelo chamado Barco do Aborto, nem pela triste missão desempenhada pela sua tripulação. Mas sou pró-escolha, com tudo o que isso implica. E por isso não posso ficar indiferente à decisão do Governo de impedir que o barco entre em águas territoriais portuguesas.
A decisão, infelizmente, só surpreende os mais ingénuos. A partir do momento em que o dossier foi entregue a Paulo Portas era fácil adivinhar que a decisão teria uma motivação puramente ideológica e nunca legalista. Quando o secretário Estado dos Assuntos do Mar resume o caso a uma "questão legal e não moral" está, objectivamente, a mentir. A mentir descaradamente, com todos os dentes, a mentir por uma questão puramente ideológica.
Paulo Portas tem merecido a tolerância de muita gente à direita e à esquerda. Mas convém dizer que Portas é um democrata imperfeito. Tem tiques autoritários que se vão agravando à medida que vai ganhando poder e a sua ambição não conhece limites. E contamina tudo o que toca, como se pode ver na maneira como está a arrastar este Governo (e o de Durão, embora menos) para as masmorras da intolerância mais tacanha. Há muitas maneiras de ser de Direita. Há muitas Direitas. E depois há o Paulo Portas. Eu não o quero ver com mais poder. E vocês?