domingo, junho 27, 2004
O prometido é devido. Aqui fica uma amostra (salvo seja) do livrinho do carioca Ruy Castro. Para descontrair, depois de todas estas emoções do fim-de-semana. Vade Retro Santanás! (A frase é genial mas infelizmente não é minha. Li-a algures, já não sei onde. O inspirado dono que se acuse, please, para que a justiça seja reposta)
AMESTRANDO ORGASMOS
No meio de um recente jantar formal em Edimburgo, Escócia, com aqueles homens e mulheres sérios, todos usando minissaia xadrez, uma das senhoras começou a contorcer-se de forma comprometedora. A princípio pensou-se que a comida lhe provocara uma súbita dor de barriga. Mas não. Os ruídos que fazia eram inconfundíveis: estava tremendo, grunhindo, gemendo, bufando e soltando risadinhas incontroláveis. A temperatura de seu corpo subiu e ela passou a suar visivelmente. As pupilas se dilataram e uma veia azul surgiu em sua testa. Para susto ainda maior dos presentes, emitiu um uivo de Valquíria de ópera e, em seguida, uma espécie de mugido de alívio. E só então sossegou. Era como se acabasse de ter um orgasmo.
Os escoceses trocaram olhares de grave reprovação. Por melhor que fosse a comida, não justificava que alguém tivesse um orgasmo à mesa, muito menos uma senhora de 54 anos, professora, casada e mãe de filhos. E, definitivamente, a mesa do jantar não é o lugar adequado para essas manifestações. Como se sabe orgasmos são coisas que os escoceses só têm em último lugar e mesmo assim entre quatro paredes,
à meia-luz e em completo silêncio. Eles são tão rigorosos nesse departamento que a pergunta: “Foi bom para você, meu bem ?” é considerada grossa pornografia. Por aí se pode calcular o choque dos comensais ao presenciar uma mulher com o guardanapo no pescoço e gozando em estéreo e dolby.
Levada ao hospital central de Edimburgo, descobriu-se que a tal senhora sofria de uma deformação arterial que lhe afectava o lóbulo frontal do cérebro. O resultado é uma actividade nervosa e eléctrica muito parecida com a epilepsia, mas que, tecnicamente falando é um orgasmo – e que orgasmo ! O caso está interessando vivamente os cientistas porque, com isso, descobriu-se que ali, naquela parte do cérebro, fica o tecido nervoso que provoca o orgasmo feminino.
Bem, só isso já foi um choque. Até então, pensava-se que o tecido nervoso que provoca o orgasmo feminino ficasse em outro lugar. Foi um espanto saber que ele se localiza no cérebro, a mais de um metro de distância da região directamente interessada.
Uma simples rabanada da artéria, e já sabe: o orgasmo dispara e não quer saber se a mulher está em casa fritando bolinhos ou numa reunião da Associação das Famílias dos Sobreviventes do Titanic. A descoberta foi publicada há dias numa das mais respeitáveis publicações científicas do mundo: a Lancet. Daí, vazou para um jornal “The Observer”,e, deste para quase todos os jornais do planeta. O nome da tal senhora foi mantido em segredo e só se sabe que ela está sendo tratada com tranquilizantes, do tipo usado para combater a epilepsia. Mas, de vez em quando, esquece-se do remédio, e, no meio de um concerto de gaitas-de-fole, começa a gozar histericamente, abafando até o som das ditas gaitas.
Uma amiga minha, que me confidenciou ter tido apenas um orgasmo nos últimos oito anos, leu a respeito e ficou morta de inveja. Já está pensando em ir à Escócia para que os médicos examinem o seu lóbulo frontal. Ou então trocar de marido, ainda não decidiu. Mas não sei se a tal escocesa é assim tão merecedora de inveja. Afinal, por mais prazer que se tenha, quem quer passar o dia tendo orgasmos múltiplos em situações esdrúxulas? Em Barbarella, um famoso filme futurista dos anos 60, a heroína (Jane Fonda) é torturada pelo vilão de serviço que a amarra numa máquina de gozar. No começo Barbarrella acha óptimo. Milhares de orgasmos depois, já não suporta continuar gozando e aceita confessar tudo, mas, antes disso, consegue fundir a máquina. Ou seja, até para gozar é preciso haver lugar e hora.
O facto é que, depois disso, a discussão científica em torno do orgasmo pegou fogo no Reino Unido. Descobriu-se a existência em Londres de um homem com um problema semelhante: um funcionário público de 48 anos, torcedor do Manchester United e apostador em corridas de cachorros, que também se contorcia e ejaculava sem a mínima solicitação nos contextos mais inconvenientes. De repente, em plena repartição, cercado de despachos a respeito da rede de água e esgotos, o homem começava a se debater, respirar grosso e, minutos depois, arriava na cadeira, para espanto dos colegas. Levado a exames, descobriu-se que ele tinha uma superatividade do hipótalamo, a parte do cérebro masculino que trata de tais assuntos. Ou seja, se deixados à solta, os orgasmos disparam por contra própria, como alarmes de carro – e com o mesmo estardalhaço.
De posse dessas informações, dois cientistas britânicos, Robert Will e Paul Reading, concluíram o seguinte: se o orgasmo feminino é disparado pelo lóbulo frontal, e o do homem, pelo hipotálamo, a evolução do orgasmo desde priscas eras demonstra que os homens o tiveram primeiro que as mulheres. Isso porque o hipótalamo é um órgão mais antigo e primitivo que o lóbulo frontal. Ou seja, os homens começaram a se divertir antes das mulheres, o que explica que, durante séculos, as mulheres não achassem graça ao sexo – na verdade, tinham muito mais prazer no acto de cerzir meias.
Já pensou na importância histórica dessa descoberta ? Ela pode elucidar porque, durante milénios, as mulheres não viram grande utilidade nos homens a não ser como provedores do lar. Donde todas as sociologias que vivem acusando o homem de ser um histórico opressor podem estar erradas.
Mas, como em qualquer descoberta científica, há sempre os que discordam. Diante das conclusões de Will e Reading, já se levantaram outros cientistas para que dizer que tudo isso é uma grande bobagem e que os orgasmos masculino e feminino nasceram ao mesmo tempo, porque o pénis e o clitóris seriam anatomicamente o mesmo órgão. Só que o pénis se desenvolveu, devido à acção da testosterona, já tendo chegado a dimensões alarmantes – os especialistas citam Garrincha, Ciro Monteiro, António Pitanga. Ao passo que o clitóris, tão delicado e tão bonitinho, continuou, com o devido respeito, atrofiado. Os dois seriam igualmente ricos em terminações nervosas, dizem eles, e não há motivo para que um tenha começado a funcionar primeiro que o outro.
Ah é ? ! Então, como se explica que as mulheres possam ter orgasmos múltiplos e os homens, não ? O homem, quando foi, já era. E a mulher continua tendo orgasmos, um depois do outro, enquanto o homem já está pensando na morte da bezerra. Isso demonstra que, mesmo que não haja diferença anatómica entre os dois orgaõs, alguma parte do cérebro deve funcionar de um jeito para um e de outro para o outro. E, pelo visto, o da mulher funciona melhor. Além disso, como se também que a mulher esteja pronta para o sexo 30 segundos depois de o ter feito, enquanto o homem só pode dar bis depois de sabe-se lá quanto tempo ?
Há uma conclusão a se tirar de tudo isto: as mulheres podem ter começado depois do homem, mas estão disparadas na dianteira. Imagine um prélio de orgasmos entre a tal professora de Edimburgo e o londrino das águas e esgotos – os dois frente a frente numa sala, mas cada qual num canto, sem se tocarem, e gozando loucamente por conta própria, com um monte de aparelhos monitorando tudo.
Ao fim do primeiro tempo já posso até ver no placar electrónico: 10 x 1 para a Madame. O homem nunca vai empatar esse jogo.
AMESTRANDO ORGASMOS
No meio de um recente jantar formal em Edimburgo, Escócia, com aqueles homens e mulheres sérios, todos usando minissaia xadrez, uma das senhoras começou a contorcer-se de forma comprometedora. A princípio pensou-se que a comida lhe provocara uma súbita dor de barriga. Mas não. Os ruídos que fazia eram inconfundíveis: estava tremendo, grunhindo, gemendo, bufando e soltando risadinhas incontroláveis. A temperatura de seu corpo subiu e ela passou a suar visivelmente. As pupilas se dilataram e uma veia azul surgiu em sua testa. Para susto ainda maior dos presentes, emitiu um uivo de Valquíria de ópera e, em seguida, uma espécie de mugido de alívio. E só então sossegou. Era como se acabasse de ter um orgasmo.
Os escoceses trocaram olhares de grave reprovação. Por melhor que fosse a comida, não justificava que alguém tivesse um orgasmo à mesa, muito menos uma senhora de 54 anos, professora, casada e mãe de filhos. E, definitivamente, a mesa do jantar não é o lugar adequado para essas manifestações. Como se sabe orgasmos são coisas que os escoceses só têm em último lugar e mesmo assim entre quatro paredes,
à meia-luz e em completo silêncio. Eles são tão rigorosos nesse departamento que a pergunta: “Foi bom para você, meu bem ?” é considerada grossa pornografia. Por aí se pode calcular o choque dos comensais ao presenciar uma mulher com o guardanapo no pescoço e gozando em estéreo e dolby.
Levada ao hospital central de Edimburgo, descobriu-se que a tal senhora sofria de uma deformação arterial que lhe afectava o lóbulo frontal do cérebro. O resultado é uma actividade nervosa e eléctrica muito parecida com a epilepsia, mas que, tecnicamente falando é um orgasmo – e que orgasmo ! O caso está interessando vivamente os cientistas porque, com isso, descobriu-se que ali, naquela parte do cérebro, fica o tecido nervoso que provoca o orgasmo feminino.
Bem, só isso já foi um choque. Até então, pensava-se que o tecido nervoso que provoca o orgasmo feminino ficasse em outro lugar. Foi um espanto saber que ele se localiza no cérebro, a mais de um metro de distância da região directamente interessada.
Uma simples rabanada da artéria, e já sabe: o orgasmo dispara e não quer saber se a mulher está em casa fritando bolinhos ou numa reunião da Associação das Famílias dos Sobreviventes do Titanic. A descoberta foi publicada há dias numa das mais respeitáveis publicações científicas do mundo: a Lancet. Daí, vazou para um jornal “The Observer”,e, deste para quase todos os jornais do planeta. O nome da tal senhora foi mantido em segredo e só se sabe que ela está sendo tratada com tranquilizantes, do tipo usado para combater a epilepsia. Mas, de vez em quando, esquece-se do remédio, e, no meio de um concerto de gaitas-de-fole, começa a gozar histericamente, abafando até o som das ditas gaitas.
Uma amiga minha, que me confidenciou ter tido apenas um orgasmo nos últimos oito anos, leu a respeito e ficou morta de inveja. Já está pensando em ir à Escócia para que os médicos examinem o seu lóbulo frontal. Ou então trocar de marido, ainda não decidiu. Mas não sei se a tal escocesa é assim tão merecedora de inveja. Afinal, por mais prazer que se tenha, quem quer passar o dia tendo orgasmos múltiplos em situações esdrúxulas? Em Barbarella, um famoso filme futurista dos anos 60, a heroína (Jane Fonda) é torturada pelo vilão de serviço que a amarra numa máquina de gozar. No começo Barbarrella acha óptimo. Milhares de orgasmos depois, já não suporta continuar gozando e aceita confessar tudo, mas, antes disso, consegue fundir a máquina. Ou seja, até para gozar é preciso haver lugar e hora.
O facto é que, depois disso, a discussão científica em torno do orgasmo pegou fogo no Reino Unido. Descobriu-se a existência em Londres de um homem com um problema semelhante: um funcionário público de 48 anos, torcedor do Manchester United e apostador em corridas de cachorros, que também se contorcia e ejaculava sem a mínima solicitação nos contextos mais inconvenientes. De repente, em plena repartição, cercado de despachos a respeito da rede de água e esgotos, o homem começava a se debater, respirar grosso e, minutos depois, arriava na cadeira, para espanto dos colegas. Levado a exames, descobriu-se que ele tinha uma superatividade do hipótalamo, a parte do cérebro masculino que trata de tais assuntos. Ou seja, se deixados à solta, os orgasmos disparam por contra própria, como alarmes de carro – e com o mesmo estardalhaço.
De posse dessas informações, dois cientistas britânicos, Robert Will e Paul Reading, concluíram o seguinte: se o orgasmo feminino é disparado pelo lóbulo frontal, e o do homem, pelo hipotálamo, a evolução do orgasmo desde priscas eras demonstra que os homens o tiveram primeiro que as mulheres. Isso porque o hipótalamo é um órgão mais antigo e primitivo que o lóbulo frontal. Ou seja, os homens começaram a se divertir antes das mulheres, o que explica que, durante séculos, as mulheres não achassem graça ao sexo – na verdade, tinham muito mais prazer no acto de cerzir meias.
Já pensou na importância histórica dessa descoberta ? Ela pode elucidar porque, durante milénios, as mulheres não viram grande utilidade nos homens a não ser como provedores do lar. Donde todas as sociologias que vivem acusando o homem de ser um histórico opressor podem estar erradas.
Mas, como em qualquer descoberta científica, há sempre os que discordam. Diante das conclusões de Will e Reading, já se levantaram outros cientistas para que dizer que tudo isso é uma grande bobagem e que os orgasmos masculino e feminino nasceram ao mesmo tempo, porque o pénis e o clitóris seriam anatomicamente o mesmo órgão. Só que o pénis se desenvolveu, devido à acção da testosterona, já tendo chegado a dimensões alarmantes – os especialistas citam Garrincha, Ciro Monteiro, António Pitanga. Ao passo que o clitóris, tão delicado e tão bonitinho, continuou, com o devido respeito, atrofiado. Os dois seriam igualmente ricos em terminações nervosas, dizem eles, e não há motivo para que um tenha começado a funcionar primeiro que o outro.
Ah é ? ! Então, como se explica que as mulheres possam ter orgasmos múltiplos e os homens, não ? O homem, quando foi, já era. E a mulher continua tendo orgasmos, um depois do outro, enquanto o homem já está pensando na morte da bezerra. Isso demonstra que, mesmo que não haja diferença anatómica entre os dois orgaõs, alguma parte do cérebro deve funcionar de um jeito para um e de outro para o outro. E, pelo visto, o da mulher funciona melhor. Além disso, como se também que a mulher esteja pronta para o sexo 30 segundos depois de o ter feito, enquanto o homem só pode dar bis depois de sabe-se lá quanto tempo ?
Há uma conclusão a se tirar de tudo isto: as mulheres podem ter começado depois do homem, mas estão disparadas na dianteira. Imagine um prélio de orgasmos entre a tal professora de Edimburgo e o londrino das águas e esgotos – os dois frente a frente numa sala, mas cada qual num canto, sem se tocarem, e gozando loucamente por conta própria, com um monte de aparelhos monitorando tudo.
Ao fim do primeiro tempo já posso até ver no placar electrónico: 10 x 1 para a Madame. O homem nunca vai empatar esse jogo.