quarta-feira, junho 09, 2004

 

Apelo ao PS

Independentemente de haver ou não uma relação directa entre a morte de Sousa Franco e o sacrifício a que foi submetido na lota de Matosinhos, aquilo que se passou na jornada matinal de hoje da campanha para as eleições europeias vem provar a necessidade de varrer definitivamente com os caciques locais do PS. Os socialistas, se querem atrair quadros, eleitores ou simplesmente cidadãos, não podem continuar a estar dependentes dos líderes concelhios, presidentes de câmara e outros baronetes locais. Já sei que há quem argumente que o regresso dos socialistas ao poder em 1995 só foi possível graças aos resultados das conquistas autárquicas do partido em 1989 e 1993, o que até pode ser verdade. Mas qual foi o reverso dessa medalha? Abílio Curto (na Guarda), Fátima Felgueiras (Felgueiras), Luis Monterroso (Nazaré), etc, etc. Já todos perceberam que ser autarca rende. Em primeiro lugar para o próprio, depois para o partido (ou vice-versa). E aqui é que está o problema. Se não fossem os autarcas, provavelmente o partido não teria tanto dinheiro para gastar em campanhas e na sua promoção mediática. O modelo de organização dos partidos, em particular do PS, tem de ser alterado para impedir que o baronete "A", graças às centenas de militantes que entretanto fez entrar à força no partido, tenha poder suficiente para decidir quem é candidato à câmara, quem é candidato a deputado, quem é que deve estar nos órgãos nacionais do partido. Essas "eminências pardas", que, no jogo subterrâneo, acabam por controlar os directórios partidários, têm de ser expurgadas de poder. E não me venham com a história do centralismo. Limitem os mandatos, regionalizem ou centralizem os partidos, mudem o que tem a mudar, mas, por favor, impeçam que imagens como a de ontem não se voltem a repetir.

PS. Convém referir que este retrato serve também para o PSD, que nestas coisas é um irmão gémeo do PS.

RA

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