quarta-feira, abril 28, 2004

 

Elza


Não sei se a Elza Soares tem 67 anos, como ela diz, ou se tem 73, como diz o resto do mundo. Só sei que ex-companheira do imortal Garrincha está em grande forma. Em forma superlativa. Tive o prazer de a ver ontem à noite no Rivoli e fiquei abismado com o vozeirão (já nem me lembrava como é impressionante), com a ginga, com o corpo enxuto, com a alegria de viver. A vida de Elza não foi fácil. Nasceu preta, pobre e mulher num país tropical, bonito por natureza, mas injusto por acção dos homens. Casou aos 12, foi mãe aos 13, gravou o seu primeiro disco aos 15, pariu (como gosta de dizer) nove filhos, amou o craque das pernas tortas apesar de ele ser casado, afrontou a ditadura, exilou-se, sofreu. Triunfou. Hoje faz 20 concertos por mês, tem o respeito de gente como Caetano, Chico ou Gilberto Gil, é adorada pelo povo do Rio, a sua eterna paixão, vibra com os triunfos do seu Flamengo e está casada com um homem 40 anos mais novo. "O meu preto", como ela ontem o apresentou. E continua a cantar como só ela sabe, com uma voz marcada por cicatrizes profundas, negra, intensa, com um fôlego de maratonista e arranques à Charlie Parker. Grande Elza. Assistir a um concerto dela é uma coisa que todos devíamos fazer ao menos uma vez por década.

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