quarta-feira, março 17, 2004

 

Tabancas

Os bijagós são uma das principais etnias da Guiné-Bissau. Ao contrários dos fulas e dos balantas, os bijagós não foram atraídos pela capital Bissau, tendo permanecido nas ilhas do arquipélago. São hospitaleiros e estão sempre prontos para acolher visitantes nas tabancas, embora não mostrem grande entusiamo quando os "brancos" começam a disparar as máquinas fotográficas. Apesar do avanço do islamismo e dos cristãos evangélico,os locais mantêm os seus cultos animistas, dominados pelo temor a Iran. Iran é o pai, o amigo, o criador do mundo (os bijagós acreditam que o universo começou em Orango) mas também pode ser impiedoso e castigador com aqueles não respeitam as normas da comunidade, em especial em relação aos mais velhos, designados como "homens-grandes". Iran é apaziguado com o sacrifício de animais, em cerimónias que decorrem em pequenos templos improvisados em palhotas e durante as quais os sacerdotes bebem quantidades industriais de aguardente. Assisti a uma cerimónia em Orango em que foi decapitada uma galinha, que depois andou por lá aos tombos, sem cabeça, aspergindo de sangue os convidados, que não podiam mostrar sinais de repugnância para não desagradar a Iran. Foi uma cerimónia pouco indicada para espíritos fracos ou mais sensíveis, que meteu a ingestão de aguardente (que foi também borrifada sobre algumas raízes que servem de morada Iran) e que terminou com os esventramento da ave, para tentar ler o futuro nas suas vísceras. As vísceras eram brancas, um bom presságio. Um cão entrou no templo e fugiu com a cabeça cortada da galinha. Eu fui ao mar limpar-me do sangue espalhado pelo braços, pernas e rosto. A galinha deve ter sido comida pelos bijagós...



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