segunda-feira, março 22, 2004

 

Mais um mártir

Há alguns meses, Ahmad Yassin dizia ao repórter Henrique Cymerman, da SIC, que estava há 40 anos à espera de se tornar mártir. Esta madrugada os israelitas fizeram-lhe a vontade. O líder espiritual do Hamas foi morto num ataque com mísseis feito a partir de três helicópteros quando saía de uma mesquita. Ariel Sharon felicitou as forças de segurança pelo "sucesso" da operação, em que morreram mais sete palestinianos e outros 17 ficaram feridos. O mundo islâmico e a União Europeia (UE) já reagiram, condenando o ataque e alertando para uma escalada da violência, enquanto os EUA garantiram que não sabiam de nada. Nos territórios palestinianos ocupados multiplicam-se as manifestações de ódio aos judeus e de promessa de vingança. Arafat, velho adversário político do xeque, decretou três dias de luto nacional.
A morte de Yassin é chocante, mas eu não vou chorar por ele. Tetraplégico desde os 12 anos, vítima de um acidente com um engenho explosivo que estava a preparar, o xeque tornou-se o líder espiritual do Hamas e nunca negou ser o autor moral de muitos atentados em Israel perpetrados por bombistas suicidas. Em nome das suas convicções religiosas (respeitáveis) e do direito do seu povo à autodeterminação (justo) provocou muito sofrimento em Israel e até na Palestina (mandou matar dezenas de pessoas acusadas de colaborarem com os judeus). Viveu pela espada, morreu pela espada. Mesmo sentindo um incómodo extraordinário por esta espécie de terrorismo de Estado praticado por Sharon, não vou fazer de conta que lamento o seu desaparecimento só para ser politicamente correcto. Mas não posso deixar de me preocupar com o que vem por aí nos próximos tempos. Nada é mais perigoso de que um mártir. Mesmo morrendo às mãos dos seus inimigos, o xeque conseguiu, de uma maneira terrivelmente perturbadora, os seus objectivos. O ódio está mais forte do que nunca.

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