quinta-feira, outubro 07, 2004

 

Aqui há uns meses escrevi no no farol do jornalismo ocidental (vénia ao JPH do Glória Fácil) um textinho ligeiramente irónico sobre o professor Marcelo. Uma amiga reenviou-mo hoje, desafiando-me a republicá-lo neste blogue. Pois aqui vai. Foi escrito noutro contexto, menos crispado, mas julgo que permanece actual. Afinal, como li hoje algures, com esta saída da TVI o professor passa a ter tempo para ler cinco livros por noite. Embora eu acredite que, nos tempos mais próximos, MRS vai andar muito ocupado a fazer a vida negra aos aprendizes de feiticeiro da coligação PSL/PP.


Crónicas de amor e ócio
O bicho bibliófago

Será o professor Marcelo Rebelo de Sousa (MRS) um bicho bibliófago? A pergunta é pertinente, em especial depois que o professor de Direito confessou à revista "Os Meus Livros" que lê sessenta (60) livros por mês. S-e-s-s-e-n-t-a! Quase dois livros por dia, portanto. O ex-líder do PSD devora tudo o que encontra pela frente: romances, poesia, ensaios, monografias, enciclopédias, bulas de remédios, manuais de Direito e dicionários.
Fonte geralmente bem informada garante até que o imponente Dicionário Houaiss, com os seus seis volumes, 228.500 entradas, 376.552 acepções, 415.515 sinónimos, 26.414 antónimos, 130.064 substantivos, 61.861 adjectivos e 15.049 verbos terá sido lido e digerido pelo professor em três dias e picos. E, pelo meio, MRS ainda teve tempo para preparar as aulas de Direito, escrever meia-dúzia de pareceres, participar num par de jantares conspirativos que tiveram na ementa a inevitável sopa vichyssoise, ficar acordado até às tantas da manhã a ver o Open de ténis dos EUA, ir num pulinho a Celorico de Basto presidir à Assembleia Municipal, assistir em Guimarães à derrota da selecção portuguesa de futebol e fazer, com a argúcia habitual, os comentários de Domingo na TVI.
Na Faculdade de Direito de Lisboa conta-se até que uma vez MRS devorou a edição original do Deutsche Rechtsprechung zum Völkerrecht und Europarecht 1986- 1993 durante o intervalo para o almoço, e depois ainda teve tempo de ir dar um mergulho ao Guincho, apesar de ser Janeiro e de estar a cair granizo
Claro que há quem duvide das proezas do professor. Pacheco Pereira, por exemplo, manifestou no seu blog algum cepticismo em relação à quantidade de livros que o professor lê por mês. Mas eu, que ando desde os 15 anos a tentar acabar o Principezinho, acredito piamente na versão do professor. Eu sou crente. Eu bem o vejo todos os domingos na TVI a recomendar com suposto conhecimento de causa pilhas e pilhas de livros. Só a inveja mais mesquinha pode levar alguém a insinuar que MRS se limita a ler o resumo que as editoras colocam nas badanas dos livros. Honni soit qui mal y pense !
Para ler esta enorme quantidade de livros, o professor garante que corta no sono. Reza a lenda que MRS dorme apenas um par de horas por noite, um pouco na esteira de Margaret Tatcher que, ao que consta, também não gostava de perder tempo a dormir. Mas agora que foram revelados os hábitos de leitura do professor, a história tem que ser revista. Feitas as contas, conclui-se facilmente que MRS não deve dormir por noite mais de15 minutos. Só assim consegue ter tempo para ler dois livros por dia, sessenta volumes por mês.
É desta matéria que são feitas as lendas. É de homens como este que o país precisa. Homens sem sono. Homens que levam menos tempo a ler a nova enciclopédia ilustrada Larousse do que a Mary Poppins a dizer "supercalifragilisticexpialidocious". Marcelo Rebelo de Sousa é um bibliófago, mas é o nosso bibliófago. Atrás dele avança o futuro, vergado ao peso dos livros que o professor devorou. Um país com a nossa taxa de iliteracia não pode desperdiçar um talento destes. Sem ele a puxar a nossa média para cima corremos o risco de ter índices de leitura ao nível do Burkina Faso. Bem haja, professor!

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